A partir desta página, você vai conhecer a biografia completa de Julio Ugarte y Ugarte, desde o nascimento em Lima, capital do Peru, até seu desenlace em Palmeira das Missões, RS, Brasil. Para que o navegante possa entender melhor o contexto dos fatos relatados, inserimos links em diversas partes desta biografia para os escritos do próprio Ugarte, para entrevistas que o mesmo concedera, para documentos da Igreja ou ainda para outras páginas relevantes no Onipotente.org. Boa leitura!
Do nascimento até sair da Lei de Liberdade
JULIO UGARTE Y UGARTE, descendente de uma nobre e ilustre família, nasceu em Lima, capital da República do Peru, a 23 de julho de 1890. Era filho de Luiz Ugarte e Fidelia Rosa Ugarte e fez os estudos iniciais em um colégio jesuíta, onde concluiu o Curso de Humanidades com apenas 15 anos de idade.
O interesse pessoal e a visão de mundo adquirida no Curso de Humanidades levaram Ugarte a fazer, por conta própria, um estudo comparativo das religiões cristãs que existiam em sua época. E este estudo, embora superficial, o fez perceber sem muito esforço que os rituais e práticas externas das religiões cristãs dos seus dias não operavam em sintonia com os ensinamentos dados por Jesus Cristo.
A questão que se lhe apresentou imediatamente após este estudo foi a seguinte: por que então as pessoas seguem a religiões modificadas pensando estarem seguindo a Verdade?, mas logo lhe veio a resposta: porque as pessoas no geral são adeptas da lei do menor esforço e preferem receber tudo pronto. Assim, não buscam por si mesmas as Verdades de Cristo na fonte do cristianismo primitivo, que é o Novo Testamento.
Ugarte então desiludiu-se com as religiões existentes e abandonou todas as crenças religiosas que recebera até então e passou, por conta própria, a ler e a estudar a Bíblia, especialmente o Novo Testamento, orando diretamente a Deus Pai Todo Poderoso, conforme ele próprio revelara anos mais tarde em profundo artigo doutrinário.
Passado um tempo no Peru, após formado no Curso de Humanidades, empreendeu viagem para os Estados Unidos da América do Norte, onde estudou e concluiu os estudos superiores, graduando-se Perito Contador pela “The International Schools”, de Scraton.
Paralelo com os estudos superiores, o interesse pelo Conhecimento de Deus continuava e isto o fez pesquisar com mais minúcias a história de todas as religiões desde o princípio do mundo. Em 1909 já era membro destacado de várias sociedades teosóficas norte-americanas, para as quais mantinha uma colaboração ativa, eficiente e original. Seus conhecimentos filosófico-científicos despertavam a admiração e o respeito de seus pares, não obstante contar, nessa época, apenas 19 anos de idade.
No final de 1909 regressou ao Peru, permanecendo no seu país natal junto dos seus familiares, amigos e parentes, buscando um meio de viver e sobreviver honestamente no mundo. Em meio a isto, seguia orando a Deus por conta própria, continuando a leitura e os estudos acerca do mundo espiritual e dos ensinamentos de Cristo no Novo Testamento.
Mas Ugarte percebia que, não obstante os esforços tenazes empreendidos para compreender as Verdadeiras Práticas do Cristianismo Primitivo, ainda faltava alguma coisa que não conseguia entender.
Qual era o Mistério que dava coragem aos cristãos dos primitivos tempos para enfrentarem todas as dificuldades, inclusive o jugo dos perseguidores e as mais cruéis mortes com fé inabalável em nome de Jesus, o Cristo, com felicidade estampada no olhar e com um sorriso franco nos lábios? “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia: fomos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!” (Romanos 8:38-39).
Qual era o Verdadeiro Mistério que permitia aos primitivos cristãos estarem vivos no mundo e mortos no mundo ao mesmo tempo, transcendendo a matéria e vivendo no Espírito de Cristo, ou seja, em Deus? “Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para viver para Deus. Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gálatas 2:19-20).
Qual era o Mistério que permitia aos cristãos dos primitivos tempos chegarem ao estágio chamado Cristo Interior desenvolvendo o poder de ver e ouvir espiritualmente e ainda receberem, como prêmio pela fé e pelos esforços empreendidos, como se fossem livres, a manifestação espiritual do próprio Cristo, de acordo com instruções do próprio Jesus: “aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, este é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele” (João, 14:21).
Se a realização destas e de muitas outras promessas do Novo Testamento estavam reservadas aos que seguem a Verdade Cristalina dos ensinamentos de Deus, observando os Dez Mandamentos e os Estatutos dados por Cristo, como Ugarte ainda não alcançava este estágio espiritual?
Em suas súplicas e orações, pedia com fé que, em sendo da Vontade do Pai Celeste, que Ele lhe mostrasse o que ainda não conseguia perceber. E cumpriu-se então o que está escrito: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque aquele que pede recebe; e o que busca encontra; e, ao que bate, se abre” (Mateus 7:8). O Onipotente reservara a Ugarte algo muito maior e de muito mais responsabilidade do que ele próprio enquanto homem poderia imaginar.
No dia em que completava 21 anos, 23 de julho de 1911, em Lima, capital do Peru, Ugarte recebeu então por primeira vez a prometida manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, em Espírito, lhe revelou com simplicidade o que tanto pedia em suas orações: o Mistério da Vontade de Deus.
Preparação de ministério
Este acontecimento mudou Ugarte completamente. A partir de então passou a perceber tudo completamente diferente. A visão que possuía de mundo, as interpretações materiais e espirituais que tinha construído na Lei de Liberdade, tudo, absolutamente tudo, adquiriu novos e autênticos significados à luz do Mistério da Vontade de Deus que lhe fora revelado.
Compreendeu que a liberdade humana e o suposto livre-arbítrio são meramente ilusórios e que tudo depende da Vontade do Pai Celestial. O homem que pensa ser livre e que pensa executar a sua própria vontade age assim por ignorância, porquanto ignora que sua liberdade é apenas aparente e obedece inconscientemente a leis superiores, à Leis Divinas.
O erro de julgar-se livre e dono de suas próprias vontades arraigou-se na consciência do homem, porque os ensinamentos autênticos de Cristo ao invés de serem preservados e transmitidos em sua essência foram aos poucos sendo modificados de acordo com interesses e razões do mundo, a ponto do Verdadeiro Cristianismo, tal qual ensinado por Jesus, desaparecer por completo no terceiro século de nossa era.
Investigando o Novo Testamento, agora com a chave da Obediência a Deus, não foi difícil para Ugarte perceber dezenas, centenas de passagens que revelam o Mistério da Vontade de Deus. Constatou que toda a trajetória terrena de Jesus de Nazaré justificou-se em cumprir a Vontade de Deus, obedecendo a Vontade do Pai Celestial e não a sua própria vontade, tal qual como ensinou os homens a fazer, pelo seu próprio exemplo.
Entre muitas passagens comprovando isso, Ugarte atentou mais especialmente para algumas: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a Vontade de meu Pai, que está nos Céus” (Mateus 7:21); “Pois qualquer que fizer a Vontade de meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, irmã e mãe” (Mateus 12:50); “a minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (João 4:34); “eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a Vontade daquele que me enviou” (João 6:38); Antes da crucificação: “Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia, não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lucas 22:42); na tradição deixada pelos apóstolos: “não servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a Vontade de Deus” (Efésios 6:6).
Refletindo sobre o Pai Nosso, a única oração ensinada por Jesus, Ugarte também encontrou a ordem explícita para que não façamos a nossa própria vontade, mas sim a Vontade de Deus: “Pai nosso, que estás nos Céus, santificado seja o Teu Nome. Venha o Teu Reino. Seja feita a Tua Vontade, como no Céu, assim também na terra (…)” (Mateus 6:9-10) E descobriu que só mediante o cumprimento da Vontade de Deus é que se pode alcançar a unificação com Deus: “porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a Vontade de Deus, possais alcançar a promessa” (Hebreus 10:36).
Agradecido em Deus e em Cristo Jesus por ter recebido o maior dos presentes que julgava merecer, no final de 1911 Ugarte viajou para a Europa, onde aproveitou cada momento possível para estudar e para colocar em prática tudo o que Cristo lhe revelava, à luz da Lei de Obediência à Vontade de Deus.
Permaneceu cerca de três anos no Velho Continente. Visitou a Inglaterra, Portugal, Espanha, França e Alemanha e talvez se demorasse mais no Velho Mundo se o estopim da primeira guerra mundial não tivesse sido aceso. Quando as hostes germânicas invadiram a França em 1914 e o rumor das batalhas se fazia ouvir em Paris, Julio Ugarte y Ugarte retornou ao Peru.
Mas a estada em sua terra natal não foi muito longa. Possuidor de um grande esclarecimento espiritual, dado a ele por Deus, em harmonia com uma sabedoria multiforme, Ugarte, impelido por determinação do Altíssimo, passou a viver uma vida de peregrinação constante e de atividade espiritual fecunda através da América do Sul, tendo residido sucessivamente, na Venezuela, Colômbia, Chile, Bolívia, Argentina, Uruguai e, por fim no Brasil.
Durante 22 anos, Ugarte ensinou letras e ciências no Peru, Chile e na Bolívia. Como pedagogo e pensador, escreveu alguns livros, entre eles uma “Gramática Inglesa“, intitulado “Reading and English Grammar” e um “Tratado de Oratória” intitulado “Elocuencia y acción oratoria”, ambos com suas edições esgotadas. Destacava-se como matemático, escritor e jornalista, mas toda a sua motivação estava firmada na Obediência a Deus.
Foi professor do “English Commercial School”, de Iquique, no Chile; diretor da “Escola Comercial Mollendo”, na Bolívia; diretor da “Escola Prática de Comércio”, de Cochabamba, na Bolívia; professor da “Escola de Comércio e Agrimensura”, de Cochabamba; professor do “Instituto Nacional de Comércio”, de La Paz, capital da Bolívia; professor do “Colegio San Calixto”, da mesma capital; diretor fundador da “Escola Prática de Comércio”, de Oruro, na Bolívia, único estabelecimento em seu gênero então existente na referida cidade e reconhecido oficialmente pelo governo boliviano.
Os primeiros documentos impressos que tratam, ainda que de uma maneira muito velada, da Doutrina da Obediência a Deus, são da cidade de Oruro. Lá escreveu três temas doutrinários de grande profundidade: “O Caos”, “O Único Caminho”e “A Luz”, publicados os três num mesmo impresso tipográfico e com data de 1929 (não especificado o dia e o mês, mas sim, simplesmente: Oruro, Primavera de 1929).
Como jornalista, colaborou assiduamente, ora como diretor, ora como redator chefe, em diversos e importantes órgãos da imprensa sul-americana, no Chile, na Bolívia e na Argentina, sendo seus artigos, pela universalidade e profundeza dos conceitos doutrinários, filosóficos e científicos, apreciados pelos homens livres de preconceitos.
Ainda mantendo um bom relacionamento com o mundo teosófico, na mesma cidade, escreveu Ugarte um contundente artigo chamado Khrisnaji visto através das lentes do Cristianismo, versando contra a pretensão da substituta de Madame Blavatski que ousava apresentar Krishnamurti como um novo Messias.
A contenda que se estabeleceu, conforme ele mesmo relatou anos mais tarde na obra “As Duas Grandes Leis Espirituais – Liberdade e Obediência“, ocasionou o grande cisma que estremeceu os alicerces da Sociedade de Teosofia.
Em 5 de novembro de 1930, na cidade de Oruro, Bolívia, contraiu núpcias com Lastenia Villamil (de Herrera) de Ugarte, uma senhora então viúva, pertencente a uma distinta família de La Paz. Realizado o casamento, nesse mesmo dia o casal partiu para Buenos Aires, onde fixou residência. Registre-se que acompanhou o casal a menina Maria Cristina Herrera (na época com 14 anos), filha do primeiro matrimônio de Lastenia.
Entretanto, esta união conjugal teve curta duração, já que sua esposa faleceu alguns meses após o matrimônio. Da filha de Lastenia, Maria Cristina, não apuramos o destino, mas é provável que tenha ficado aos cuidados dos avós maternos da menina após a morte da mãe.
Em Buenos Aires, depois deste acontecimento, o professor Ugarte permaneceu por cinco anos. Durante esta estada na capital argentina, ordenado pelo Espírito Santo, chegou a fundar a “Sociedade de Filosofia Transcendental – Escola de Iniciação Cristã”, mas a Sociedade não progrediu.
Em busca de terra mais fecunda, Ugarte seguiu para o país vizinho, Uruguai, onde morou um ano na capital Montevidéu. Nas duas metrópoles exerceu as atividades de magistério, atuou no jornalismo e no comércio. Aí, em Montevidéu, também reuniu um reduzido número de seguidores e a eles lançou também a semente da Doutrina da Obediência a Deus, mas também aí a semente não germinou.
Acostumado já a peregrinações e viagens, Julio Ugarte y Ugarte rumou para o Brasil em 1936, desembarcando no porto de Rio Grande (Rio Grande do Sul) a 21 de março. Algumas fontes indicam ter sido este desembarque a 26 de março, não há, porém, documento oficial que confirme isso. A partir de sua chegada ao Brasil, sua vida confunde-se com a vida da própria Igreja Cristã Primitiva, sendo, impossível dissociar sua biografia da história da Igreja.
Biografia de Julio Ugarte y Ugarte:
Do Peru ao Brasil
Círculo Espiritualista Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo
A Sociedade de Filosofia Transcendental
Igreja Cristã Primitiva
Projeto de Colonização
Coletânea de Textos
Legado de Julio Ugarte y Ugarte