Nesta página discorreremos sobre a Colonização do Rio Guarita, motivações da mesma, objetivos, dificuldades na realização do projeto, autorização, transporte de pessoas, terras ocupadas, Palmeira das Missões, Rio Guarita, detalhamento da vida dos fiéis na Colonização, situação da época, avanço histórico até os dias atuais, permeado com links no corpo do texto para outras páginas do Onipotente.org que revelem fatos importantes necessários à compreensão de todo o contexto da Colonização.
Colonização Agrícola e Industrial
Conforme já relatamos na página da História da Igreja Cristã Primitiva renascente, o fato de maior repercussão e cujos efeitos repercutem até hoje no seio da Igreja, é o que diz respeito à fundação da Colonização Agrícola e Industrial, iniciada em 1947.
O plano da Colonização, concebido por Ugarte para montar, na prática, uma comunidade auto-suficiente de irmãos obedientes a Deus, foi posto em execução por seus discípulos.
Após ter conseguido o capital inicial, Ugarte viajou com destino a Palmitos, no Estado de Santa Catarina, onde foi informado haver grandes glebas de terras devolutas, cuja concessão de posse seria fácil obter do governo daquele Estado. Passando, entretanto, por Palmeira das Missões, ali se demorou a convite da administração municipal, interessada que a organização projetada se efetivasse naquela região, oferecendo todo o apoio e incentivos necessários.
Coincidentemente, um dos irmãos da igreja, Aldilau da Silva Machado, cuja família possuía nas proximidades da cidade uma regular extensão de terras, cedeu gratuitamente o terreno no qual se poderia estabelecer, com vantagem, uma grande olaria para fabricação de tijolos, telhas e outros produtos e também a fábrica de cigarros prevista no projeto.
Diante do apoio oficial em prol do empreendimento e do oferecimento voluntário do terreno, ficou estabelecido que ali seria concretizado o grandioso plano. A área para colonização oferecidas pela municipalidade continha 50 colônias e se localizava na zona de Jaboticabal. Entretanto, as terras que a princípio constavam como devolutas nos registros da municipalidade, estavam já em parte ocupadas por posseiros, o que fez o professor desistir da ocupação naquela área.
Em novos estudos, e depois de longas demarcações, o Estado ofereceu uma vasta área de terra coberta por mata virgem e atravessada pelo rio Guarita, a 110km da cidade de Palmeira das Missões, área de terra que na época pertencia aos municípios de Palmeira das Missões (50 colônias em uma margem do rio) e Três Passos (50 colônias na outra margem), hoje pertencentes aos municípios de Palmitinho, Pinheirinho do Vale e Vista Gaúcha.
Depois da inspeção, Ugarte aprovou a colonização naquele local e então, a 17 de julho de 1947 partiu para Palmeira das Missões o primeiro grupo de irmãos, oriundos de Porto Alegre, de João Rodrigues e de Monte Alegre. Em agosto do mesmo ano já se encontrava no local a maquinaria para a olaria, fabricada em Santa Cruz pela firma Roberto Bins e Filhos, aumentando deste modo o patrimônio que contava, na época, com uma camioneta, um caminhão, uma locomóvel e apreciável quantidade de implementos e ferramentas agrícolas.
Descrever o que foi o transporte, o alojamento, a alimentação da enorme leva de agricultores para a colonização agrícola e as dificuldades do dia-a-dia, num lugar onde nada existia nas cercanias, senão a floresta virgem, sem vias de acesso, imensa na sua extensão e grandiosa na sua majestade nativa, é tarefa que pela Vontade de Deus relataremos em outro artigo num futuro próximo.
O período decorrente entre 1947 e 1948 foi todo dedicado ao intenso trabalho de organização da olaria, de exploração das margens do rio Guarita, de assentamento das famílias nas colônias do projeto agrícola, de derrubada de árvores e início de plantio.
Muitos daqueles que se deslocaram entusiasmados para a colonização agrícola não resistiram à árdua prova a que estavam sendo submetidos e abandonaram a região. Outros, por não serem afeitos às lides da terra, também desistiram, sem, contudo, terem abandonado a Doutrina que haviam abraçado, porquanto eles, como também dissera Pedro a Nosso Senhor Jesus Cristo, diziam que se abandonassem a Doutrina e seu Mestre, “para quem iriam?”
O jornal Correio do Povo, em sua edição de 28 de julho de 1948 publicou uma reportagem com título: Obra de Colonização Agrícola no Município de Palmeira, onde dava detalhes do projeto de Colonização Agrícola e Industrial, inclusive com parecer e entrevista ao próprio professor Ugarte. Aí, entre muitas informações importantes, registrou-se:
“Atualmente, temos oitenta famílias de agricultores e técnicos no novo distrito de Palmitinhos, na região do rio Guarita, em Palmeira, e no lado oposto, na outra margem desse rio, que corresponde ao município de Três Passos, perfazendo um total superior a quinhentas almas.”
A Igreja continuava no ritmo normal das suas atividades espirituais, mas seus olhos estavam fitos no grandioso e ousado empreendimento conduzido por Ugarte, que havia estabelecido em Palmeira seu novo domicílio, habitando numa pequena casa de madeira, fazendo daí o centro das suas atividades incessantes.
O tempo integral do professor era tomado entre a administração dos trabalhos na olaria (e no que viria a ser a comunidade industrial) e da supervisão da colonização agrícola no Rio Guarita, para onde viajava de duas a três vezes no mês levando sementes, utensílios domésticos, alimentos e toda sorte de equipamentos necessários ao assentamento dos colonos que lá se estabeleceram. Somente excepcionalmente visitava a sede central e os demais templos do Estado.
Mas a idéia da Colonização só alcançou em parte os objetivos colimados. Na manhã de 17 de agosto de 1949, uma ocorrência inesperada encheu de infinita angústia, ainda que por breve tempo, o coração de milhares de cristãos primitivos; a notícia correu célere por todos os quadrantes do Estado: Julio Ugarte já não mais existia neste plano físico, havia desencarnado.
Após este fato, a comunidade industrial localizada em Palmeira das Missões ruiu por completo. A olaria foi abandonada, restando no local apenas escombros do que foi o grande forno idealizado para queima de tijolos e telhas; a fábrica de cigarros que geraria recursos e daria empregos a muitos operários não saiu do papel; o maquinário já adquirido para diversas lides destruiu-se pela ação impiedosa das intempéries da natureza, enfim, restou no local apenas ruínas do que prometia ser o começo de uma nova vida para muitos.
A comunidade agrícola, não tendo ainda auto-suficiência de produção e completamente dependente dos recursos que o professor Ugarte para lá levava duas a três vezes no mês, viu de uma hora para outra ser interrompida a toda a assistência que possuía. Acampados em clareiras na mata, viram desmoronar a promessa da construção de uma vila de cem casas que serviria de apoio para as 100 colônias, bem como a promessa do fornecimento de tijolos e telhas para suas moradias… Sobrevieram tempos difíceis após o desencarne de Ugarte, mas aqueles obedientes a Deus sabiam que estavam participando de um projeto maior e que por isso não deveriam desistir. Enfrentaram unidos todos os percalços possíveis neste plano físico e a comunidade agrícola venceu, pela glória de Deus, e continua lá, florescendo na prática da Obediência a Deus.
Biografia de Julio Ugarte y Ugarte:
Do Peru ao Brasil
Círculo Espiritualista Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo
A Sociedade de Filosofia Transcendental
Igreja Cristã Primitiva
Projeto de Colonização
Coletânea de Textos
Legado de Julio Ugarte y Ugarte