Sociedade de Filosofia Transcendental – Escola de Iniciação Cristã
Em Porto Alegre, o Professor de imediato começou a trabalhar na divulgação dos ensinamentos Cristãos. Quer estivesse Ugarte na residência onde se fizera hóspede, na rua, em algum comércio, no bonde, no cais do porto, em casa de alguém, toda ocasião que se lhe apresentasse era propícia para falar da Doutrina, do mundo espiritual, dos ensinamentos de Cristo, das Verdades da Obediência à Vontade de Deus.
Inspirado por Deus, aproximou-se das sociedades espiritualistas da capital, passando a frequentá-las. Na Sociedade Numa Pinto, que se localizava na rua dos Andradas, proferia palestras e conferências que granjeavam muitos ouvintes e admiradores. Este incansável esforço, como era previsível, foi recompensado por Deus.
Os primeiros discípulos de Porto Alegre vieram da própria sociedade Numa Pinto e, a partir dali, em pouco tempo Ugarte reuniu em torno de si um grupo de discípulos ainda maior do que reunira em Rio Grande, a quem ensinava o que era necessário ensinar para o despertar das Verdades da autêntica Fé Cristã.
Incansável Instrutor, no início alternava viagens entre Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre, sem ter residência fixa, mas depois tomou a decisão de estabelecer-se definitivamente na capital do Estado nos primeiros dias de 1937, para centrar na capital os ensinamentos dos quais era portador.
Vindo num crescente o número de discípulos, em 17 de agosto de 1937, acompanhado de um certo número de seguidores, fundou a Sociedade de Filosofia Transcendental – Escola de Iniciação Cristã, com sede e foro na cidade de Porto Alegre. Os objetivos desta Sociedade, conforme o próprio Ugarte relatou mais tarde em artigo no Correio do Povo, eram os seguintes:
“A finalidade principal da sociedade que oriento é a organização da Igreja Cristã Primitiva, tendo como fundamento o Evangelho de Cristo, que ensina a Doutrina de Obediência à Vontade Divina e aos Seus Estatutos. (…) A Doutrina de Obediência a Deus é essencialmente uma prática interna, espiritual, em que os adeptos, em todos os seus atos, fazem – não a sua vontade pessoal, – mas a Divina. (…) As finalidades imediatas da Doutrina são as seguintes: Reunir, dentro de um laço indissolúvel de fraternidade, pessoas de ambos os sexos, sem distinção de nacionalidade, cor ou posição social, que aceitem a Doutrina de Obediência a Deus; difundir pela palavra falada e escrita, o Primitivo Culto Cristão e, finalmente, promover o aperfeiçoamento moral de seus adeptos e da humanidade, pelo combate ao fanatismo, ao vício e ao crime” (Correio do Povo, 23/11/1941)
A primeira diretoria da Sociedade foi composta com os seguintes nomes:
Fundador: Professor Julio Ugarte y Ugarte;
Presidente: Tenente Julio Castilhos Maciel Cesar;
Vice-presidente: João Rodrigues Louzada Júnior;
1° Secretário de Atas: João Carlos Rocha;
2° Secretário de Atas: Fridolino A. Eichstardt;
Secretário de Correspondência: Roberto Hallan
Tesoureiro: Pedro J. Silva;
Bibliotecário: Avelino Pereira Roque.
Conselho de Vigilância e Auxílio: Dr. Otacílio Alves Prestes, Avelino Cadaval, Álvaro Figueira, Gervásio Bueno dos Santos, Waldomiro Bittencourt e Olinto Blum.
Membros fundadores: Professor Julio Ugarte y Ugarte, João Carlos da Rocha, Gervásio Bueno dos Santos, Alcides Cassal, João Rodrigues Louzada Júnior, Pedro J. Silva, Roberto Hallan, Avelino Cadaval, Tenente Julio Castilhos Maciel Cesar, Álvaro Figueira, Fridolino Alvino Eichstardt, Avelino Pereira Roque, Dr. Otacílio Alves Prestes, Waldomiro Bittencourt, Olinto Blum, Hipólito de Castro, Napoleão Oliveira de Castro, João Aloisio Junges e Arlindo de Abreu e Silva.
Dentre as determinações tomadas naquela fundação, foram criados os dois primeiros Templos da Sociedade de Filosofia Transcendental, que receberam os nomes de Templo São Paulo e Templo São João Batista. Registre-se aqui que a Sociedade nascente em Porto Alegre incorporou em sua estrutura o Círculo Espiritualista Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo de Rio Grande, que surgira no ano anterior por iniciativa dos discípulos daquela cidade. O Círculo Espiritualista de Rio Grande passou a ser um dos ramos da Sociedade de Filosofia Transcendental. (Para saber mais sobre o Boletim da Sociedade de Filosofia Transcendental desta época cuja imagem aparece ao lado, clique aqui.)
Importante frisar que as reuniões doutrinárias iniciais do Templo São Paulo eram realizadas na sala de visitas da residência onde Julio Ugarte se fizera hóspede, localizada na rua General João Manoel, entre a Sete de Setembro e a Andradas. Mas havia a determinação para que os templos, tão logo fosse possível, deixassem de ser simbólicos e fossem construídos com os recursos disponíveis.
Tais reuniões passaram a ser concorridas. Cada vez mais pessoas a elas acorriam para ouvir com seus próprios ouvidos os ensinamentos que Julio Ugarte proferia sobre o Novo Testamento, sobre Jesus Cristo, sobre Deus, sobre mundo espiritual, sobre os Dez Mandamentos, sobre o desenvolvimento do Cristo Interior e sobre a promessa de salvação aos que seguissem a Vontade de Deus…
A Doutrina florescia também nos encontros nos quais Ugarte não estava presente. Muitos dos irmãos que tinham ouvido suas palestras e pregações faziam questão de levar tal conhecimento a parentes e amigos. Assim a Doutrina foi granjeando simpatizantes e conquistando novos seguidores, mesmo em outras cidades e em outras localidades que Ugarte ainda não tinha visitado.
As Duas Grandes Leis Espirituais – Liberdade e Obediência
Em 1938, um ano após a fundação da Sociedade de Filosofia Transcendental, já contava-se às centenas os adeptos da Doutrina, tanto em Porto Alegre quanto em Rio Grande e Pelotas, como também espalhados pelos mais diversos recantos do Rio Grande do Sul, levados pela boa vontade de inúmeros irmãos. Mas a Doutrina da Obediência à Vontade de Deus não tinha ainda Instrutores capacitados para o ministério da pregação doutrinária…
Quando Ugarte estava presente, ele próprio tirava as dúvidas e discorria sobre os questionamentos dos discípulos a respeito dos mais diversos assuntos, tanto do mundo material quanto do mundo espiritual. Entretanto, quando os irmãos se reuniam por conta própria para falar e aprender mais sobre a Doutrina, faltava-lhes o necessário entendimento que evitasse erros de interpretação do que liam no Novo Testamento e daquilo que tinham ouvido verbalmente de Ugarte.
Diante destes fatos, inúmeros discípulos e irmãos em Cristo passaram a pedir ao professor Ugarte que escrevesse uma cartilha ou um livro para que ficasse registrado os Ensinamentos Evangélicos da Doutrina da Obediência a Deus que ele vinha ministrando nas suas conferências doutrinárias, em suas pregações, como meio mais fácil para a instrução e difusão da Doutrina.
Acedendo aos apelos dos discípulos, Ugarte viajou no final de 1938 para Rio Grande e ali retirou-se para a calma e paz de uma fazenda, onde, inspirado pelo Espírito e por Revelação Divina, escreveu o livro “As Duas Grandes Leis Espirituais – Liberdade e Obediência“. A fazenda era de propriedade de A. Otacílio Noronha, que inclusive foi o patrocinador da impressão do livro do Professor.
Esta obra foi publicado em março de 1939, tendo sido impressa pela Livraria Americana, que se localizava na rua Marechal Floriano, em Rio Grande. Como curiosidade, informamos que, logo nas primeiras páginas, um aviso dizia: “serão considerados apócrifos todos os exemplares que não tiverem a assinatura do autor”. Na Apresentação do livro, Ugarte escreve aos discípulos:
“(…) acedi em atender aos vossos insistentes apelos para que proporcionasse um livro que servisse para levardes adiante o vosso ideal de renovação espiritual; e, ao mesmo tempo, servisse para atrair outras almas ao Caminho, que verbalmente vos ensinei, e pelo qual tantíssimas manifestações tendes recebido da veracidade da Doutrina Oculta do Cristo.”
Como se pode observar grafado no próprio livro As Duas Grandes Leis Espirituais, na época da publicação do mesmo, por força da permanência de Ugarte em Rio Grande por vários meses, a Sede Central Provisória da Sociedade de Filosofia Transcendental estava localizada nesta cidade e não em Porto Alegre.
O jornal “Rio Grande”, da mesma cidade, na edição de 28 de março de 1939 registra o lançamento deste livro em sua secção bibliográfica sob o título: “As Duas Grandes Leis Espirituais – Liberdade e Obediência – Professor Julio Ugarte y Ugarte – Rio Grande – 1939”. O jornalista publicou os seguintes comentários acerca do livro:
“É uma edição pessoal. E não só a edição, mas a obra, em si, ou seja, a tese desenvolve a Doutrina que lança, buscando estabelecer uma nova filosofia interpretativa da espiritualidade cristã, é marcadamente pessoal. Obra de pensamento, de combate espiritual, que sempre eleva, de fé, que constrói, todavia, ela abre auspiciosamente as edições locais do ano. O autor, que é fundador presidente da Sociedade de Filosofia Transcendental, aqui sediada provisoriamente, desdobra, nas 200 páginas desta obra, a tese de que as duas grandes leis espirituais, como tais capituladas a de Liberdade e a de Obediência, estudadas à luz de uma nova, original interpretação do Antigo e Novo Testamento, descerra o véu que oculta o Mistério da Vontade de Deus. O livro escrito originariamente em castelhano, foi posto no vernáculo, corretamente, pelo nosso conterrâneo o Sr. Astrogildo Otacíllio Noronha, membro da “Sociedade de Filosofia Transcendental (Escola de Iniciação Cristã)” que o prefacia, dizendo que um dos pontos culminantes é o ensino de como por uma simples disciplina mental, passamos da Lei de Liberdade, em que vivemos, à Lei de Obediência, operando-se uma transformação que dá origem à formação do Cristo Interior, fagulha divina, que temos todos os mortais, inerte no âmago da consciência.”
O livro foi recebido com enorme júbilo e alegria pelos seguidores da Doutrina da Obediência a Deus restaurada por Ugarte porque, a partir de então, poderiam continuar estudando os temas da Doutrina mesmo nas ocasiões que o Professor não estivesse presente, conquanto o mesmo continuasse peregrino, sem parada fixa, viajando por onde quer que o Espírito o conduzisse no propósito de evangelização do Cristianismo Primitivo.
Alguns meses, após esta data, como complemento à obra As Duas Grandes Leis Espirituais, Ugarte escreveu o artigo: Esclarecimentos sobre os Dez Mandamentos, onde detalhou com propriedade as mudanças que os homens, seguindo o critério do mundo, fizeram nos Dez Mandamentos originais dados por Deus a Moisés, suprimindo um, o segundo mandamento que proíbe a idolatria e fazendo dois mandamentos do último, para preencher a lacuna deixada pela supressão do segundo. A data grafada no rodapé do documento original é 13 de julho 1939. Este esclarecimento foi publicado no Boletim Informativo 18.
Dando continuidade na divulgação da Doutrina da Obediência à Vontade de Deus, Ugarte empreendeu viagem para o Rio de Janeiro ainda em 1939, num navio cargueiro. Na então capital do Brasil, Ugarte manteve por carta o contato com os irmãos que deixara no Rio Grande do Sul. E lá freqüentou também sociedades espiritualistas, realizou diversas palestras e discursos públicos e escreveu três conferências, que não sabemos se foram ou não proferidas publicamente, cujos originais datilografados se encontram nos arquivos da Igreja. São elas: Mistérios da Vontade, Os dois aspectos da Vontade e Inteligência.
Curas em João Rodrigues (Rio Pardo/RS)
No início de 1940, após um determinado período de divulgação da Doutrina no Rio de Janeiro, Ugarte pretendia transladar-se para os Estados Unidos, uma viagem já planejada há algum tempo, como o próprio relatara na Apresentação do livro As Duas Grandes Leis Espirituais:
“(…) pensava de imediato tornar pública a Doutrina nos Estados Unidos da América do Norte, onde a Democracia tem profundíssimas raízes, mas, guiado pelo Espírito, desisti de ausentar-me, por algum tempo, ao sentir neste grande país as necessárias garantias de par com um clima propício para a germinação da semente da Luz, iluminadora das almas que seguem as pegadas do Divino Mestre da Galiléia”), onde imaginava fixar residência com a intenção de que aquele país fosse o centro irradiador da Doutrina de Obediência à Vontade de Deus, o Evangelho da Verdade, para todo o mundo”.
Mas esta idéia, adiada em 1938 pela necessidade de escrever o livro “As Duas Grandes Leis Espirituais”, novamente não se concretizaria. Ugarte fora chamado com urgência pelo Sr. João Manoel Nunes, do distrito de João Rodrigues (município de Rio Pardo, interior do Rio Grande do Sul) para atender uma filha sua (na época com 36 anos) que se encontrava gravemente enferma e para cura da qual haviam sido inúteis todos os recursos da ciência médica oficial e outros.
Cumpre destacar, neste episódio, que a Doutrina de Obediência à Vontade de Deus já havia chegado àquela localidade levada pela palavra do irmão João Rodrigues Louzada Júnior, um dos fundadores com Ugarte da Sociedade de Filosofia Transcendental, homem cheio de fé, que deu testemunho da capacidade espiritual e do poder de Deus do qual Ugarte era portador, indicando-o como único capaz de curar a doente.
Tomando então um avião de carreira, com passagem paga pela família Nunes, Ugarte retornou imediatamente ao Rio Grande do Sul e, acompanhado de discípulos que o esperavam no aeroporto, deslocou-se de trem até João Rodrigues, onde, por seu intermédio, o poder do Pai Celeste curou a filha do fazendeiro, chamada Carolina Teixeira Nunes (28/09/1903 – 04/07/1971), livrando-a das entidades malignas que a atormentavam.
Sendo Dom João Manoel Nunes um homem conhecido por todos na região e igualmente conhecida a situação gravíssima em que se encontrava sua filha, tal acontecimento imediatamente correu de boca em boca, de casa em casa, ultrapassando e muito as divisas da localidade.
Esta cura operada pelo Espírito Santo desencadeou nas pessoas da região primeiramente a curiosidade e a desconfiança, fazendo com que elas acorressem à casa dos Nunes para conferir com seus próprios olhos o que havia acontecido. E, vendo Carolina plenamente restabelecida, creram. E, crendo, ouviam a palavra pregada por Ugarte que iluminadamente ensinava a Doutrina da Obediência a Deus. E os ouvintes traziam seus familiares e amigos para ouvir, e também traziam doentes e enfermos para que fossem também tocados pelo poder que emanava em Ugarte para que fossem também curados.
O pleno restabelecimento da filha de Dom João Manoel Nunes e inúmeras outras curas que se realizaram naquela localidade imediatamente transformaram o pequeno distrito de João Rodrigues no maior centro de irradiação da Doutrina. Milhares de adeptos (entre estes quase a totalidade da população de João Rodrigues) se converteram à Obediência à Vontade de Deus.
Posteriormente aos fatos ocorridos em João Rodrigues, o professor Ugarte retornou novamente ao Rio de Janeiro, mas como da primeira vez, não se demorou muito por lá, retornando em pouco tempo ao Rio Grande do Sul.
Progressos da Igreja em 1940
O grande número de convertidos em João Rodrigues e região fez nascer, a 9 de fevereiro de 1940, mais um Templo, o São Pedro, onde os novos fiéis passaram a se reunir para ouvir a Palavra de Deus desvelada a partir dos ensinamentos da Doutrina trazidos por Julio Ugarte y Ugarte.
Registre-se ainda que foi aí na pequena localidade de João Rodrigues que foi construído o primeiro Templo físico da Igreja, cuja inauguração festiva se efetuou no dia 25 de outubro de 1940, menos de nove meses após a sua fundação, que havia ocorrido no dia 9 de fevereiro, tamanha a Fé da família Nunes e da comunidade local.
A foto ao lado é do Templo São Pedro de João Rodrigues, fotografada em 9 de fevereiro de 1942, por ocasião do segundo aniversário do Templo. Todos os presentes posaram para a foto histórica, reparem que o professor Ugarte pode ser visto no lado direito da porta do Templo, de terno branco (clique sobre a foto para ampliar).
De uma carta escrita pelo professor Ugarte em Rio Grande e enviada ao irmão Annes, em Porto Alegre, datada de 17 de outubro de 1940, extraímos o seguinte:
Participo-lhes que recebi, ontem, carta da Estação de João Rodrigues (Rio Pardo), avisando-me ter-se terminado a construção do templo, que erigiu ali, o Ramo São Pedro da Sociedade de Filosofia Transcendental. Este é o primeiro templo dos servos da Obediência a Deus, depois de tantos séculos. A inauguração me avisam que se efetuará a 25 do presente mês, se é assim a Vontade de Deus.
Convidaram-me para este ato, mas creio que, para essa data não poderei estar lá; são dois dias de viagem; daqui a Porto Alegre por vapor um dia, e por trem várias horas. Nesse lugar, como em Porto Alegre, nestes últimos meses, têm aparecido novos irmãos; só aqui em Rio Grande é onde toda atividade espiritual está paralisada; a gente inconstante deste povo me faz ver que não compreenderam a Verdade; mais se preocupam com as coisas do mundo…
Julio Ugarte y Ugarte
Embora com os reveses ocorridos em Rio Grande, conforme relatados na carta acima, a Igreja prosperou consideravelmente em 1940. Além da construção do primeiro Templo em João Rodrigues, centenas de novas almas redimidas foram incorporadas à seara dos obedientes a Deus, devido, principalmente, à repercussão, em todo o Rio Grande do Sul das maravilhosas curas realizadas pelo Espírito Santo, por intermédio de Ugarte, em uma infinidade de enfermos de toda classe desenganados pela ciência, e, de modo especial, em virtude da influência que exerceu no espírito público sua obra doutrinária.
Era tal a afluência de simpatizantes da Doutrina da Obediência à Vontade de Deus e de Ugarte no Templo São Paulo, em Porto Alegre, que o recinto deste Templo não podia comportar a massa de visitantes que acorriam às reuniões, que nessa época, devido à estada do Professor na capital, eram diárias.
Na intenção de disporem de um local maior e mais amplo para as reuniões, desejo de todos, numa das ausências de Ugarte quando este viajou para o interior do Estado, transferiram o Templo São Paulo para a avenida João Pessoa, para um salão maior que era compartilhado com outras entidades espiritualistas e até com um núcleo espírita.
Quando Ugarte retornou a Porto Alegre, de imediato percebeu que os pregadores, homens ainda inexperientes no trato das coisas espirituais, além de se deixarem levar em suas pregações por coisas alheias à Doutrina, aliado ao ambiente de confusão espiritual onde se inserira o Templo, não puderam impedir que o Templo se esvaziasse.
Então explicou a eles porque este esvaziamento tinha ocorrido: assim como a água não se mistura com o azeite, a Doutrina também não poderia juntar-se a qualquer outra corrente filosófica, pois que desde o seu fundamento básico se opõe a qualquer doutrina de homens ou de espíritos.
O Templo São Paulo foi então retirado daquele local e transferido para a rua General João Manoel, 327, onde permaneceu até que a comunidade de crentes adquirisse o imóvel da rua Passo da Pátria, 397, onde se instalou e onde está até hoje.
Reveses inesperados
Na localidade de João Rodrigues, fatos inesperados aconteceram e culminaram com uma grande perseguição à Igreja e a seus adeptos. Levado por uma fé sem discernimento, os irmãos convertidos à Obediência à Vontade de Deus aconselhavam aos novos adeptos da Doutrina, em grande número nessa época, que destruíssem os ídolos que tivessem em suas casas, apoiados no segundo mandamento, que diz:
“Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás diante delas, nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. E uso de misericórdia com milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos”. (Êxodo 20;3-6)
Com fé cega, os irmãos mais efusivos e recém convertidos levaram suas velhas e inofensivas imagens de madeira, de gesso e de outros materiais para a praça pública e, com a anuência de João Rodrigues Louzada Júnior, queimaram as mesmas ante as imprecações dos que ainda acreditavam no ilusório poder daquelas representações de divindades mortas.
Tal ação acarretou uma imediata reação da comunidade católica, tendo à frente o vigário da região e, daí, uma sistemática e ferrenha perseguição à Igreja. Por conta deste incidente, Ugarte chegou a ser preso por breve tempo em Rio Pardo, mas sem que os objetivos da turba fossem colimados, que era a anulação da Sociedade de Filosofia Transcendental, a destruição do Templo de João Rodrigues, dar uma dura lição nos pregadores e, em particular, fazer desaparecer o seu fundador, Julio Ugarte y Ugarte. Passado algum tempo, os ânimos acalmaram-se e a paz e a prosperidade voltaram a reinar no seio da Igreja.
Anos mais tarde, na mesma cidade de Rio Pardo, a Escola Estadual Ernesto Alves teve, por decreto governamental, alterada sua designação, recebendo como nome tutelar o daquele mesmo vigário que comandara anos antes a perseguição contra os seguidores da Doutrina. Então duas jovens, ex-alunas daquele educandário, insurgiram-se contra tal alteração e ao seu clamor se associou o de uma antiga educadora que fora diretora daquele estabelecimento de ensino. Suas vozes mobilizaram toda a comunidade e, pressionado, o Governador anulou o decreto voltando o colégio a ostentar o nome do seu legítimo patrono. Rechaçado até pelo seus, aquele vigário, teve sua passagem pela terra riscada e sua memória esquecida.
Louzada, que fora quem indicara o professor Ugarte para curar a filha de Dom João Manoel Nunes, foi na época considerado culpado por muitos dos próprios irmãos da Doutrina pelos excessos cometidos no episódio da queima dos ídolos. Mas o próprio professor Ugarte, depois da libertação da prisão, dele dizia: “se tivéssemos dez irmãos com a fé e a determinação que habita em Louzada, o progresso da Igreja seria muito maior”.
Evidente que Louzada sentiu o peso daquela perseguição, inclusive não estava entre os irmãos que participaram do projeto de Colonização que Ugarte orientou não muito tempo depois. Mas, calçado em sua grande fé, anos mais tarde, desenvolveu pela Graça do Pai Celeste, o dom de cura. E, assim, por seu intermédio o Espírito Santo realizou inúmeras curas na cidade de Novo Hamburgo/RS e região, onde se instalara, conseguindo reunir em torno da Doutrina da Obediência à Vontade Deus um grande número de discípulos, que unidos construíram naquela cidade mais um Templo da Igreja Cristã Primitiva.
Biografia de Julio Ugarte y Ugarte:
Do Peru ao Brasil
Círculo Espiritualista Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo
A Sociedade de Filosofia Transcendental
Igreja Cristã Primitiva
Projeto de Colonização
Coletânea de Textos
Legado de Julio Ugarte y Ugarte