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Mistérios da Vontade (*)
Não pretendo recorrer aos filósofos nesta vez; quero recorrer a minha consciência, ao fruto do que eu mesmo plantei, ao resultado de minhas investigações, se assim se podem denominar as experiências realizadas mais além das meras suposições da mente inferior, quando renovada esta, desenvolvidos os sentidos do Espírito Universal em nós, vivendo no Plano correspondente ao Quarto Céu do Cristianismo, e transcendidos os degraus que o antecedem. Nesse estado de consciência, em que já não existem sombras e a Verdade se compreende por si mesma, sem o agente da inteligência pessoal nem individual - correspondentes às que nascem em cada encarnação e às que permanecem com o ego, em sua evolução, umas na vida física, as outras através de todas as vidas do ego encarnado - porque a Inteligência do EU Universal é causa e não efeito. É, pois, o que pretendo expor no resumo de conhecimentos adquiridos, já que, recorrendo aos planos inferiores da mente física, não teríamos senão os aportes ministrados muito longe da Verdade.
Não precisamos definir a vontade humana, todos sabem o que representa, filosoficamente considerada, seu valor indiscutível na vida do ego. Temos de estudá-la desde um ponto mais elevado, em sua origem.
A Vontade tem dois aspectos principais: construtor e destruidor.
Que é a Vontade em si mesma? É uma Potência construtora e destruidora. A quem obedece essa Potência? Obedece a si mesma, porque é a criadora do mesmo pensamento que engendra, entre outras, a mesma idéia que produziu os conceitos de vontade inferior e Vontade Superior, vontade humana e Vontade Divina.
É a criadora do Pensamento Universal nos diferentes planos de consciência; ela, portanto, é incriada.
A Vontade Superior é imutável, a vontade inferior é mutável.
A vontade inferior é limitada, consequentemente, não é Absoluta.
O que tem limites, não pode ser o Ilimitado. Só existe uma Verdade, só existe uma Vida Universal - Deus - o Espírito.
Então, adaptando-nos à mente inferior, se queremos transcender, chegar à Vida Universal, teremos que inquirir como efetuar a Unificação com aquela Potência Criadora; eis ai o ponto capital, a base, certamente, do Poder que desenvolveram todos os mestres, errados ou não, falsos ou verdadeiros; os prodígios de ambos: a expressão de duas forças que se repelem; a manifestação dos dois polos opostos: Bem e Mal, ou num plano superior, Bem e o Não Bem, também desaparecem. Este assunto, por si simplíssimo, mas que parece complexíssimo, poderei estudá-lo em outra conferência.
Se nós atuamos por nossa vontade inferior, estamos na Mentira, o Diabo, Satanás, a Não Verdade, que rechaça a Verdade Imutável. São os polos opostos origem de todas as lutas, porque se combatem entre si os aspectos da Verdade Absoluta, de onde emana todo pensamento, o Criador do Bem e do Mal, ideia transcendente, escrita no Antigo Testamento, adaptada à Mente inferior e Superior até o Terceiro Céu do Cristo. Mas, na Mente correspondente ao Quarto Plano Superior, no Caminho da Evolução Espiritual, já não vê essa luta que é só aparente e é tomada como real quando se vive ainda nos planos de consciência de 1°, 2°, e 3° Céus, nos quais se contempla a luta astral, planos inferiores onde se realizam primeiramente os fenômenos que se reproduzirão no mundo dos sentidos, no mundo da Não Verdade.
Como compreender a Vontade Infinita? Como entrar em Harmonia com essa Potência Criadora, o Espírito Santo do Cristianismo Verdadeiro? - E tome-se em consideração que, cada vez que digo Cristianismo ou a ele me refiro, não trato de outro que não seja o primitivo, e não ao falso cristianismo que há dezessete séculos se estendeu por todo o planeta. - Como entrar nessa Corrente Misteriosa, que produz nossa ligação com a Potência Maior, olhada daqui, da Divindade? Como poderemos transcender nossa limitadíssima vontade humana? Como poderemos destruir os obstáculos que se apresentam nesta grande tarefa? Será possível essa realização da Unidade? O Cristo nos dará a resposta.
Ele, nesse plano de Consciência Superior, correspondente ao que se pode explicar aos que o seguem e que se encontram para baixo, inclusive no mundo dos sentidos, deu o exemplo: renunciar à sua vontade humana, para fazer internamente Sua Vontade Divina. Fez a Grande Transmutação - que os alquimistas tanto tergiversaram - para efetuar, ao mesmo tempo que seu progresso espiritual, seu ensino ao mundo.
Devo esclarecer que este Caminho, o mais elevado de todos, jamais foi explicado pelos Mestres que o antecederam; é um absurdo colocar a todos os Mestres no mesmo plano quanto a suas instruções.
Referindo-nos aos Mestres, devemos recorrer a um exemplo que esclareça este caso devidamente, para ter uma ideia clara, precisa, sem confusões que impedem a compreensão. Suponhamos uma Faculdade de Medicina onde todos os catedráticos, naturalmente, são médicos, fizeram os mesmos estudos, efetuaram idênticas experiências e, por último, receberam o mesmo título que, acreditando-se em sua capacidade, os faz aptos para ensinar; podem desempenhar os cargos de professores de qualquer dos cursos da Faculdade. Então, como um só médico não pode realizar esta tarefa, cada um dos professores toma a cargo seu respectivo curso. Pois bem, ainda que todos tenham os mesmos conhecimentos e se estão, portanto, capacitados para transmiti-los a seus alunos, cada um tem que ensinar em suas aulas somente o concernente ao seu curso, ainda que cada qual conheça o que sabem todos eles. Mais claramente expressado: um médico, no primeiro ano de Medicina, ensinará o correspondente ao programa de estudos do dito ano; o mesmo médico, ditando aula do último ano da mesma Faculdade, ensinará o correspondente a este último ano. Isto é que ocorre com todos os Mestres Verdadeiros.
Vejamos agora, após esclarecimento, como é que, contemplados os conhecimentos transmitidos por todos os Mestres desde o princípio do mundo, em forma de doutrinas diferentes, mas coincidindo nos princípios fundamentais, foram os Instrutores das diferentes aulas da Grande Faculdade Espiritual, Divina.
Consequentemente, com o programa universal dessa Grande Escola da Vida, os Instrutores vieram ao mundo em diversas épocas, adaptando-se desde a mentalidade embrionária dos primeiros egos da primeira raça espiritual, como às sub-raças todas, de todas as raças de espíritos que vêm ao mundo; então, como queremos comparar as instruções dos primitivos Mestres às instruções ou ensinamentos dos posteriores, seria isto um absurdo. Falando humanamente, seria demonstrar nossa falta de aproveitamento, pois havendo terminado o curso de ensino secundário, recorrer aos Mestres de ensino do Jardim de Infância ou dos cursos que o seguem; isto não o fazem os que aproveitaram bem os conhecimentos transmitidos a eles quando cursaram os estudos anteriores; também podem e estão na necessidade de recorrer aos primitivos Mestres, os que ainda estão na necessidade de conhecer o que ainda não conhecem, nos primeiros degraus do Saber Espiritual.
Como o mundo progride, apesar de todos os atrasados, com mais clareza, como as raças se sucedem umas às outras espiritualmente falando, em forma ascendente, os Instrutores também se encarnam em seus respectivos tempos para ajudar na evolução das diferentes sub-raças e raças, das diversas gerações espirituais.
Pelas razões que antecedem, ficará comprovado como é que para os mais evoluídos, o último Instrutor é o que preferem; entendendo que o último que nos visitou foi o Cristo, que anunciou que não regressaria ao mundo novamente encarnado, prevenindo assim aos egos preparados que aceitaram Seus ensinamentos. É inegável então, que os Mestres posteriores a Cristo em Jesus só podem ensinar, cingindo-se à última Doutrina deste Grande Enviado Divino.
Eu não critico os Enviados anteriores, porque sei que o Ensinamento o fez Um só em todos eles: mas o ensinamento que cada um deles deu é superior em conhecimento em forma progressiva.
Os falsos mestres se encarregaram de desviar o mundo, estabelecendo, em sua ignorância crassa, a superioridade dos anteriores, como o fizeram tantíssimos magos negros da Índia, cujas filosofias ou escolas tomadas de outros egos ignorantes do plano astral, mas tomadas como do Absoluto, fizeram que até hoje muitos sigam os erro a que eles os arrastam, não se deixando escapar certo sentimento egoísta de nacionalidade ou de raça material nesses mestres falso e deturpadores da Verdade; não desta, senão como resultado de seu próprio desvio no estudo das primeiras letras da Ciência Divina.
É muito difícil para o investigador reconhecer qual é o mestre verdadeiro e o falso. Como querem discernir com a mente inferior, esta mente da Ilusão? É absurdo.
A mente inferior olha para baixo; e, quando quer olhar para Cima, fica cega, não compreende e termina por dizer: não compreendemos a Deus, segue o mistério, perdura a Grande Incógnita, não conhecemos a Verdade.
Assim como no exemplo anteriormente citado, da Faculdade de Medicina, os professores se complementam, assim também os Mestres espirituais até o Cristo se complementaram uns aos outros em forma ascendente.
É por isso que a fundadora da Sociedade Teosófica, madame H. P. Blavatsky, aconselhada pelos Mestres que se apresentaram a ela com os nomes de Morya e Koot Hoomi, impôs no segundo postulado da Sociedade Teosófica, fundada em Nova Iorque, cá na América, onde deveria nascer a nova sub-raça, matriz e última de todas no plano da evolução espiritual, e não estabelecida na Índia - onde se deturparam seus fins - digo, nesse segundo postulado da Sociedade, se expressa o fim primordial dos teósofos depois de realizado o ideal da fraternidade humana, o estudar comparativamente religiões, filosofias e ciências, aumentando principalmente o estudo comparativo da religião cristã com as outras religiões orientais. Estudo que ela principiou e que não pôde terminar.
Como poderíamos nós desconhecer o fim de todos os Instrutores, desses grandes Mestres da Verdade? Como poderíamos deixar de compreender esses grandes Gênios Protetores da Evolução global do Espírito do qual todos somos um fragmento de seus aspectos Verdade e Não Verdade, Iluminados ou cegos? Como poderíamos imaginar que, se no concerto majestoso da Natureza tudo está condicionado por leis que a regem, no Plano do ensinamento da mesma Verdade não existisse uma única Direção nesta Faculdade ensinadora da Verdade? Seria terminar em um caos; e Deus não é caos para que o pudéssemos conceber assim.
Terminemos, pois, por aceitar um Programa ou vasto Plano Divino para que as almas, desligadas de sua Ignorância, voltem através de muitíssimas encarnações a recuperar essa origem divina que perderam ao sair do Seio que lhes deu a Luz, para unificar-se com a Vida que tinham todos em Um, antes de iniciar sua imensa peregrinação.
H. P. Blavatsky, esse gênio do século XIX, compreendeu, por iluminação, esse Plano Divino e, sendo-lhe insuficiente o tempo para abarcar em suas obras esta obra de tão grande transcendência, encarregou aos membros mais capacitados da Sociedade Teosófica, que ela fundou com a ajuda do Coronel Olcott, prosseguissem essa tarefa que, como disse, em suas obras ela iniciou.
Não encontramos, em todas as obras teosóficas, autores que seguissem tão enorme tarefa que, além de requerer enorme discernimento, precisava indispensavelmente tempo e principalmente meios econômicos para poder estudar as Doutrinas Primitivas dos Mestres, disseminadas em todos os rincões do mundo; e, muito mais, se fará cargo de tão prodigiosa tarefa quem medite breves instantes sobre as tergiversações que sofreram todas as doutrinas através do tempo, devido aos falsos mestres, que sempre aparecem quando se apresenta um Verdadeiro Redentor da Ignorância.
Voltando, pois, a esta Única Direção, essa Força Infinita, essa Vontade Criadora, reconhecida por todos os Mestres, teremos que ver que eles atuaram em Harmonia com essa Potência Criadora da Verdade, dando a conhecer que só em Deus se baseavam seus ensinamentos; eram os que davam Deus ao mundo com seus respectivos ensinamentos, encadeados, nesse concerto tão elevado, indescritível, pela magnitude que abarca, pois para ocupar-se de tão maravilhoso Arcano, teriam primeiro que passar, os que quisessem auscultá-lo, pelos degraus todos do Saber Espiritual, quer dizer, caminhando Deus neles.
Como queremos compreender o que só pode vir quando se despertarem os sentidos internos? Seria pretender dar de mamar à criança antes de nascer. Se não nasceram espiritualmente, não podem se alimentar com o conhecimento espiritual; mas os que entraram na Verdade são como fetos, em estado de gestação espiritual, alimentam-se sem dar-se conta, quase inconscientemente, mais guiados por uma intuição que pela, por assim dizer, ilação das verdade ministradas pelos Instrutores.
Não é trabalho tão fácil ensinar e, mais que tudo, ensinar a Verdade; por isso vemos os Grandes Instrutores das primeiras raças adaptarem-se admiravelmente a seus contemporâneos, quer seja recorrendo a símbolos, a Mistérios ou a cultos que nos assustam, ante os quais ficaríamos perplexos se se pretendessem ensinar em nossos dias, mas que foram compreensíveis em suas respectivas eras.
Assim como em nossa sociedade moderna, se alguém precisa de um meio de locomoção, procurará um automóvel, um trem, um vapor ou um avião, e não pensaria sequer nos veículos antigos; assim também, todos foram necessários em seu tempo. Para quem? Para nós mesmos, em nossas encarnações anteriores; somos nós mesmos as raças que evoluímos; somos nós mesmos os que vivemos de nossos pensamentos anteriores. Não vivem os vivos dos mortos? Nós vivemos de nós mesmos; formamos as raças espirituais; nada fica estacionário.
O que agora aprendemos é o que já sabíamos aumentado com os novos conhecimentos que nos foram necessários receber em cada encarnação, até que completamos nossa aprendizagem e não regressamos mais...
Contudo, assim como observamos que, apesar dos meios modernos de locomoção existentes em nossos tempos, não criticaríamos o camponês, como sucede na atualidade em muitas partes do mundo, que emprega, feliz, sua carreta arrastada por bois; assim também precisam dos ensinos primitivos os mais atrasados na Grande Faculdade da Evolução.
Como compreenderemos nosso grau de evolução? Se compreendemos os ensinamentos do Último Grande Mestre, Jesus Cristo...
Todos os Grandes enviados aconselharam sempre a não olhar mais para trás, para não nos convertermos em estátua de sal, como aconteceu com a mulher de Ló quando fugia do incêndio de Sodoma, Símbolo da Destruição, do Mal, do Erro, da Ignorância.
Não olhes para trás, ou estarás perdido é o conselho vertido através dos livros sagrados, de todas as épocas, inclusive no Novo Testamento.
Quem quer progredir não pode viver no passado, deve viver para o porvir, essa é a grande tarefa de todas as almas.
Se recorremos ao passado no estudo das Doutrinas, é unicamente para aclarar a compreensão da Última Doutrina; como o aluno de Álgebra que, tendo que resolver um problema de equação de segundo grau, houvesse se esquecido de como extrair a raiz quadrada, conhecimento que esqueceu e que já havia recebido quando era estudante de Aritmética.
A interpretação esotérica das Doutrinas não pode ser segundo critério vulgar; pois os homens, normalmente evoluídos em sua mentalidade ou intelecto, apenas perceberam insignificantes partículas das Doutrinas Esotéricas. E necessário o renascimento espiritual para ter, paulatinamente, essa interpretação oculta, que compreendem mal os iniciados, os que não alcançaram a Vida do Espírito no Plano Superior do Primeiro Degrau ou Primeiro Céu Crístico.
Foi, pois, o Cristo de nossa Era quem completou o ensinamento total da Sabedoria, foi o Mestre do Último Grau, o Instrutor de todos os que passaram pelas Doutrinas Verdadeiras anteriores; é Ele, pois, a quem seguem os que já O conheceram e, por intuição, aceitam Sua Doutrina quando lhes chega a Seu conhecimento: As ovelhas conhecem a voz de Seu Pastor, e o Pastor conhece suas ovelhas.
Dizer que o passado pertenceu a nossos antepassados, seria desconhecer que nossos antepassados fomos nós mesmos, quer dizer, nossos egos que viveram em outros corpos; e se estes últimos voltaram à Terra, assim também voltaram nossos egos à Terra até que, entrando no Umbral do Santuário, renascendo na Vida do Espírito, desidentificando-nos com nossos corpos, e ouvindo a Voz Insonora, a Voz do Silêncio a Voz do Logos, em seus três aspectos, Brahma, Vishnu, Shiva do Senhor Buda, ou o Pai, o Filho e o Espírito Santo do Senhor o Cristo, e seguindo suas Sapientíssimas Palavras não regressamos mais ao plano das Trevas, ficando incorporados definitivamente ao Espírito Eterno.
Na concepção maravilhosa dessa Unidade de todas as Doutrinas, ainda daquelas mesmas que foram deturpadas pela ignorância ou atraso dos maus sacerdotes, porque todas elas têm por fundamentos a Unidade do Espírito, ou seja, o monoteísmo e sua Trindade Básica, ambos conhecimentos pré-búdicos, algo mais, remontam aos primeiros homens que, descendo para povoar a Terra, receberam o conhecimento da existência de um só Deus, Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis.
Qualquer investigador facilmente descobrirá em todas as ideias cosmogônicas de todos os povos, desde os mais remotos tempos, detalhes característicos que fazem ver, indiscutivelmente, que não só existe essa tradição com respeito à Unidade do Espírito, mas outros detalhes, como seja a ideia conservada pela tradição, com diferentes lendas em cada povo, da realização do Dilúvio Universal, feito que pertenceu ao domínio do conhecimento dos homens de todas as raças, inclusive aos autóctones do Império dos Incas.
Como podemos negar esse outro princípio existente em todas as ideias primitivas dos povos quanto à polaridade: os pares oposto, o princípio do Bem e do Mal, simbolizados em todas as crenças de todas as raças?
Deter-nos em todos estes aspectos, seria desconhecer a História Universal; não quero fazer esbanjamento de erudição, ocupando-me dos pormenores das lendas antigas que, guardadas escrupulosamente pela tradição de todos os povos, são conhecidas por todos os homens cultos. Minhas palavras são simplesmente uma lembrança rápida desses aspectos, que servem de base primordial para levar-nos ao convencimento da Unidade da Doutrina Global de todos os Grandes Mestres, orientados por uma única Direção, por uma só Vontade Divina, feito que foi vislumbrado com um aspecto vago, atribuindo-o a um só Deus, que, em seu aspecto de Filho, o Segundo Logos, o Buda e o Cristo, morou nesses Grandes Instrutores do gênero humano, nos fazia confusa a compreensão. Mais, visto esse aspecto sob a face de urna só Vontade Onipotente da qual brota a Sabedoria Divina - O que faz as coisas pelo Conselho da Sua Vontade - segundo lemos estas palavras tanto no Livro dos livros, a Bíblia, corno nos Vedas e em todos os livros sagrados, se aclarará abundantemente esse Mistério, guardado por todos os antigos Mestres, jamais revelado ao mundo, e cuja tarefa foi encomendada ao Maior de nossos Instrutores quanto a seu ensinamento, Nosso Senhor Jesus Cristo, tema do qual me ocupo com todos os detalhes em minha obra As Duas Grandes Lei Espirituais, ao dar a conhecer a Verdadeira Doutrina Cristã.
Para quem compreendeu estes Mistérios, esclarece-se com facilidade esse encadeamento dos conhecimentos espirituais, que no fundo são o conhecimento de Deus, a Verdadeira Teosofia, que deram ao mundo os Mestres de todos os homens, de todas as raças de espíritos.
Tomando por base o Último de nossos Instrutores Espirituais, Jesus Cristo, este tema de minha conferência tem toda a força de convicção para levar-nos à evidência de que, só nos identificando com esta Potência Criadora, o Terceiro Logos, Shiva ou o Espírito Santo, em outras palavras a Vontade de Deus, retirados os véus, é que poderemos, paulatinamente, identificar-nos com o Segundo Aspecto do Logos, Vishnu, o Filho, o Cristo, e, identificados com o Segundo Aspecto, seguir, igualmente, pouco a pouco, e identificar-nos com o Primeiro Aspecto, o Primeiro Logos, Brahma, Jeová, o Pai, Deus, Paraabraham, o Absoluto.
Ternos, pois, que transcender esse Caminho da Linha Reta do qual, com palavras parecidas com as de Cristo, Lao-Tsé, o notável Inspirado Divino, nos leva ao Caminho da Unificação, esclarecido mais tarde, séculos depois, pelo Imortal Espírito da Revelação Superior, o Cristo.
As aparentes contradições que achamos nos Instrutores, devem ser consideradas com claridade meridiana, pois, muitas vezes, essas aparências de contradição levam à confusão, ao caos; mas, com este exemplo, ficará devidamente esclarecido esse assunto.
Desde o princípio do mundo, observamos que o conhecimento espiritual é progressivo e comparável com o alimento; assim o compararam todos os Instrutores, desde a recordada lenda da maçã de Adão, de que nos fala o Antigo Testamento, até as palavras de Cristo: Quem não comer meu corpo e beber meu sangue não entrará no Reino dos Céus; palavras que, entendidas materialmente, espantaram a quem as ouviram, segundo consta nesse Grande Tratado da Divindade.
A criança recém nascida tomará alimento adequado, assim sucessivamente. Se a criança posteriormente deseja, em sua ignorância, servir-se de alimentos inapropriados, o Pai recorrerá a todos os meios para dissuadi-la e os ocultará, pois, cada coisa tem seu tempo, como disse o Grande Apóstolo do Cristianismo, São Paulo. Posteriormente, o Pai obrigará a criança a servir-se de alimentos mais nutritivos e até a obrigará a isto, recorrendo às ameaças e castigos, porque a criança prefere as guloseimas e não os alimentos substanciosos. Em suma, vemos que o Pai se contradiz, o que primeiro negava e fazia ver que não convinha servir-se, posteriormente faz todo o contrário. Assim são todas as contradições que encontramos nos Grandes Enviados: Todos os que foram antes de mim, foram ladrões e roubadores, palavras que, compreendidas em sua verdadeira interpretação, se referem, como na comparação que acabo de fazer, a que já os mais desenvolvidos necessitam de alimentos mais substanciosos; é o engano que faz o pai ao filho quando não está preparado para saber a verdade, que no fundo não é engano, mas negação da verdade, por não ser esta ainda compreensível em certos aspectos; foram essas sublimes palavras para incitar, obrigar os mais evoluídos a deixar as doutrinas anteriores, a despreocupar-se desses conhecimentos pelos quais já passaram em encarnações anteriores, que já não necessitam e, em sua falta de memória, esqueceram. É como um homem que, esquecendo-se que é homem, em sua loucura, pretendesse mamar do seio da mãe; todos recorreriam a todos os meios para levá-lo ao convencimento de que é um homem, inclusive até a mesma negação da verdade e até a violência para salvá-lo de seu erro, separando-o do lar.
Quantos casos destes vemos no primitivo Cristianismo! Recordemos o caso de Saulo de Tarso que, pela violência, foi transladado ao plano do Espírito e despertaram seus sentidos espirituais quando se dirigia a Damasco, caminho errado em que encontrava perseguindo a difusão da Doutrina Santíssima, e que deu as costas ao erro e dirigiu-se para a Verdade. Paulo, esquecendo o estado evolutivo de seu ego, que ignorava, queria mamar quando já era homem; e pela violência foi forçado a servir-se do alimento que a seu tempo lhe convinha, para que ensinasse a seus contemporâneos e à posteridade qual é o melhor alimento espiritual para o que já terminou, como ele, seu ciclo de renascimentos materiais; o mesmo Paulo o reconheceu assim, que ele estava predestinado para salvar-se desde o princípio dos ciclos ou vidas universais.
Se as crianças são desobedientes e se servem de manjares inapropriados, burlando as proibições dos pais que velam pela saúde de seus filhos, estes têm que padecer pela experiência, até que, de tanto padecer, compreendam o que lhes faz mal e se salvem das dores. Assim sucedeu com Jesus: Pelo muito que padeceu, aprendeu a Obediência e, havendo-a consumado, tornou-se autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem.
Queremos palavras mais claras? Certamente que não, pois quem não as pode entender, é porque ainda não lhe chegou seu tempo, tem que padecer mais, que algum dia lhe chegará seu turno em que se convença da Verdade; e se humilhe a si mesmo como o fez o Cristo: Fazendo-se obediente ao Pai, até a morte e morte de cruz, porque Ele é o Primogênito entre muitos irmãos que, identicamente a Ele, percorrerão o Caminho Glorioso de Salvação e se salvarão com Ele os que aceitarem a Santa Doutrina porque também lhes chegou a hora da Redenção Eterna, deixando para sempre o mundo de misérias, de dores, de incontáveis sofrimentos, para ficar definitivamente incorporados à Absoluta Felicidade, Deus.
Aqui devemos fazer um esclarecimento, porque estes últimos conceitos sempre fizeram brotar dos lábios de todos em geral, de quantos pensaram neste assunto tão transcendental: Por que foi necessário que passemos por tantos sofrimentos primeiro para alcançar a Verdade? A resposta que sempre se deu pelos que pretendem ensinar sem saber a Verdade: Como conheceríamos a Luz se não passássemos primeiro pelas trevas? Resposta muito apropriada para sair da situação, mas que no fundo recai sobre a mesma pergunta: Por que necessitamos passar pelas trevas para conhecer a Luz? A resposta a darei a todo o mundo: Estudem todas as religiões comparativamente e deduzirão que todas elas sustentam que este Universo Manifestado não é real, e esta vida que cremos ter, não é real, não é a Vida Verdadeira da qual nos fala o Cristo. Se isto é assim, se depois de Deus não há nada, Ele é o Alfa e o Ômega - a primeira e a última letra do alfabeto aramaico - se este mundo é a vaidade das vaidades de Salomão, a vaidade de vaidades de Cristo, mundo que carece de essência, de substância, então todos os sofrimentos e as dores humanas foram também inexistentes, foram como um sonho através de nossas etapas inferiores, tomando em conta também que não somos nossos, porque não nos pertencemos, como disse São Paulo, nem tão pouco somos nós: é Um o Imutável, o Único Existente.
Se pretendemos, pois, chegar ao Imutável, identificar-nos com a Verdade, os que aceitarem a Doutrina do Cristo perseverem, fazendo a Vontade do Pai dentro dos Seus Mandamentos e Estatutos, e voltarão a adquirir a Onipotência de Deus, unificados com Ele, como estivemos nEle antes de sair dessa Casa Paterna; para regressar a essa Casa Paternal, como o filho pródigo da incomparável parábola do Redentor da Humanidade.
(*) Conferência do Professor Julio Ugarte y Ugarte na cidade do Rio de Janeiro em 17 de agosto de 1939. Livro Vontade e Inteligência p. 13 a 26.
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Julio Ugarte y Ugarte
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