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Escritos de Julio Ugarte y Ugarte
Coletânea de textos do professor Julio Ugarte y Ugarte

Inteligência (*)

A Inteligência tem sido definida, dizendo-se que é a arte de compreender. Mas ninguém pôde ver nela uma microscópica, diremos assim, partícula da Inteligência Divina. Contudo, todas as ideias cosmogônicas se referem à existência de uma só Vida Universal. A tal respeito, nos referimos, para maior segurança, tanto ao Budismo, que sustenta essa realidade, como ao Antigo Testamento, no qual se lê: Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o último, depois de mim não há ninguém, Eu Jeová. E no Novo Testamento, temos as palavras do Cristo: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida Verdadeira. Logo, fora de Deus não há nada. Todos vivemos em Deus, ainda que nem todos sejam conscientes dessa Vida Superior em que todos vivemos e nos movemos, como disseram os Apóstolos: Nós não vivemos nem movemos em nossos corpos, nós vivemos e nos movemos no Espírito.

Assim, sendo todos partículas espirituais do Todo, nossa Inteligência é, pois, uma pequeníssima chispa dessa Grande Fogueira. Mas esta comparação não encerra o conceito, pois essa chispa diminuta em grau superlativo de inferioridade não sai da Fogueira Central, à qual, no entanto, está unida e nela habita.

Não é possível, então, reduzir a Inteligência a uma simples faculdade humana, desprovida de seus atributos divinos, pois é esta faculdade a que nos caracteriza e diferencia do resto da Criação. Se bem que já alguns iluminados alcançaram a ver, em forma ascendente, certa manifestação da Inteligência nos três reinos da Natureza: mais caracterizadamente, no reino animal.

Em suma, como poderíamos imaginar outro conceito que não este (emitido e aceito por todas as cosmogonias), que somos feitos à imagem e semelhança de Deus?

Naturalmente que este assunto não se prestaria para tomá-lo em suas particularidades materiais, senão, fundamentalmente, em seu aspecto espiritual, já que, como disse São Paulo, temos dois corpos, um material e outro espiritual. Portanto, se refletirmos com referência aos atributos que tem que ter Deus, encontramos que o espírito humano é semelhante a Ele.

Façamos um paralelo, neste sentido, entre o Macrocosmo e o Microcosmo. Para este fim, recorramos às mesmas Doutrinas. O Evangelho de Cristo, na boca dos Apóstolos, disse: Deus fez a terra com Inteligência e os Céus com Sabedoria. Vemos, pois, que o homem tem inteligência e tem, também, sabedoria.

Não poderíamos imaginar Deus sem memória. Ele é a Memória Universal. Nós temos a manifestação dessa Memória limitadíssima, em comparação com a Grande Memória.

Assim como os Céus são mais altos que a terra, Meus Pensamentos são mais altos que os vossos pensamentos, e Meus Caminhos mais altos que os vossos caminhos, assim disse Jeová. Vemos aqui, nestas palavras do Antigo Testamento, que, se Ele é o Pensamento Total (como total são todos os Seus Poderes Oniabarcantes), nós também somos semelhantes a Ele, porque temos pensamentos.

Todas as faculdades da alma, que nós temos infinitamente limitadas, Deus as tem infinitas. Oniabarcantes, como sejam: a razão, o juízo, o discernimento, a consciência e as faculdades criadoras da alma. "Eu que fiz parir, não parirei", palavras com as quais anuncia o nascimento do Cristo Interior, engendrado pelo Espírito Santo, a Potência Criadora do Universo visível e invisível.

E, mais que tudo, essa faculdade que o homem ama, com idolatria: a liberdade. E essa liberdade de onde emana? Da Vontade, com a qual também somos semelhantes a Deus, no todo.

Se em tudo somos semelhantes a Deus, afirmando as palavras de Cristo, somos deuses: Não sabeis que vós também sois deuses e que o Espírito de Deus tudo faz em vós?

Então, temos aqui a chave do problema. Como chegar a esse estado de consciência em que nos seja possível a compreensão destes mistérios da mente humana? Como penetrar nesse Arcano Misterioso? Como descerrar o véu e ver com claridade meridiana a Verdade? Só identificando-nos com ela.

E no Cristo temos o Caminho. Façamo-nos, consequentemente, semelhantes a Cristo. Pensemos como Ele pensou e, logicamente, passaremos pelos sublimes e transcendentais estados de Consciência Superior, pelos quais Ele passou até obter a culminação da Potência Divina: ser Um como o Pai, Um com a Potência Divina.

Espiritualmente, conceituamos Cristo o Maior dos Instrutores, o Maior dos Mestres, porque ninguém antes dEle nos ensinou, com tão grande sabedoria, como ascender em linha reta até chegar à completa unificação com o Pai.

Não me deterei a explicar o aspecto oculto de Sua Doutrina, impossível de ser transmitida a um mundo, em sua imensa maioria, apegado a suas crenças, egoísta, ególatra, despreparado para receber a Verdade, como não se encontra o aluno do Jardim da Infância para receber lições de Altas Matemáticas, que requerem muitíssimos conhecimentos anteriores, no encadeamento dos conhecimentos científicos, que segue a ordem racional que vemos no desenvolvimento natural, pois, como disse São Paulo, cada coisa tem seu tempo...

Eis aí porque as Doutrinas Ocultas não foram ensinadas à luz pública, e a parte mas substancial, os Mistérios Maiores, assim em todas as Doutrinas, só foram privilégios de muitos poucos.

Alguém, sem uma reflexão serena, poderia objetar que isso seria um egoísmo. Pensar assim, seria um absurdo, tomando-se em consideração que a seu tempo cada um chegará também a conhecer aquilo que no presente não poderia assimilar, por falta de conhecimentos anteriores, que lhe fizessem acessível ao entendimento a interpretação das Sagradas Escrituras, como o Conhecimento de riquezas extraordinariamente sublimes que se encontram ocultas em cada uma das palavras do Salvador Jesus Cristo, como também nas palavras dos Grandes Enviados Divinos que o antecederam.

Para os mais evoluídos, a compreensão se torna mais fácil, porque, ainda que a sua razão não compreenda e a sua inteligência não lhes permita raciocinar, em troca, a intuição (superior à inteligência e ao talento; este, a máxima expressão da inteligência do homem) lhes fará perceber o meio como poderá aceitar os conhecimentos transcendentais da Revelação de Jesus Cristo. A propósito, não existe mais que uma só Revelação, já que Ele se classificou como o Último dos Divinos Enviados, de forma que os que o seguissem, jamais poderiam sair de Seus Ensinamentos e de Suas Palavras, conforme vemos exposto em inúmeros versículos disseminados por todos os livros que compõem o Antigo e o Novo Testamento.

Qualquer outra revelação será invenção humana ou de espíritos; e não poderíamos jamais confundir (raciocinando com inteligência) as doutrinas humanas ou de espíritos desencarnados com a Doutrina de Cristo ou dos Grandes Instrutores anteriores.

A realização dos fenômenos catalogados como milagres (no desconhecimento da Verdade) não nos deve seduzir, porque para isso temos advertências (que ignoram os que não leem as Sagradas Escrituras), como esta: Levantar-se-ão falsos cristos e falsos profetas, que farão prodígios e milagres para enganar, se possível, até os escolhidos.

Chegamos até aqui à parte mais culminante de minha conferência, ao tema mais complexo para dar-se a compreender. Como discernir, como compreender, como diferenciar um mestre verdadeiro de um falso? Como adivinhar o que diz a verdade, ou engana? Como estar seguro nestes tempos em que os mestres, os cristãos falsos, brotam por toda a parte, em cumprimento das profecias?

Sem dúvida esta tarefa torna-se fácil. Queremos saber qual dos tantos mestres é o verdadeiro e os demais falsos?

Simplesmente todos os que pregam a si mesmos e os que pregam doutrinas de homens ou dos espíritos são falsos. Não sigais nem doutrinas de homens, nem doutrinas de espíritos,disse o Salvador; e os Apóstolos declararam que não há senão uma só Doutrina, um só Cristo, um só Salvador, um só Deus.

Quando se formam outras doutrinas, estas são formadas pelos indoutos, que torcem a verdade, com injustiça.

Mais claramente, todas as doutrinas humanas ou espíritas sustêm a vontade humana; seguem como se não conhecessem que Cristo pregou a Obediência a Deus dentro de Seus Mandamentos e Estatutos.

É, pois, a Doutrina de Cristo a que deve prevalecer nos homens prudentes; e com essa mesma Vontade humana que creem ter, com essa mesma vontade, imitar a Cristo, fazendo-se obedientes ao Pai Universal até a morte.

Deve-se esclarecer o caso de que a liberdade material do homem, quanto a seus direitos e deveres como cidadão, nada tem a ver com a liberdade espiritual. Não compreender mal: Aceitai a liberdade, no referente ao humano: dai ao mundo o que é do mundo, e a Deus o que é de Deus. Devemos pagar todas as nossas dívidas: A César o que é de César; e a Deus o que é de Deus.

(*) Conferência do Professor Julio Ugarte y Ugarte, na cidade do Rio de Janeiro, em 24 de agosto de 1939.

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Julio Ugarte y Ugarte
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