|
A
Guisa de Prefácio (*)
No mundo, cada um tem seu critério, sua lógica individual, independente da "verdade", considerada esta relativamente, posto que o absoluto, o infinito, não pode ser abarcado pela mente limitada do homem. Contudo, o critério, a lógica individual, se encontra em proporção aos conhecimentos diversos e heterogêneos adquiridos pelo indivíduo durante suas experiências desde que teve o uso da razão.
Sob este ponto de vista, coincidem as multidões em suas apreciações, formando-se coletividades, nas quais sábios e ignorantes, em uma cadeia interminável e intermédia (uns com fé cega,
outros sem ela e os demais impulsionados pelo costume), se transformam, comumente, em simuladores de práticas religiosas que não concordam com a mais elementar análise que sugira a inteligência; porque, para ser religioso, é imprescindível, desde séculos, aceitar tudo sem reservas, sem raciocinar. Só se deve crer. É necessário adormecer as faculdades objetivas, aquelas que podem fazer objeção ao inverossímel, sob pena de estar longe de Deus e, portanto, da Verdade.
É eterna a luta entre a razão e a razão, guerra em que não resultam vencedores nem vencidos. Cada qual tem a sua razão, e crê,
consequentemente, estar na verdade, se é sincero para consigo mesmo.
Não se deve esquecer que em todas as religiões se interpõem os interesses criados e se luta comercialmente para ganhar espíritos e, por conseguinte, pelas vantagens materiais: é a exploração incessante por meio do temor, que invade a ignorância: os mais crédulos são o pasto propício, os joguetes dos mais audazes; uns trabalham para que os outros desfrutem; e pobre do que se rebela, guerra ou morte se declara.
Parece que a maioria dos homens, preocupados - como os coelhos da fábula - são devorados... Fala-se das tiranias dos governos, que achatam o espírito. Que maior tirania poderia ter a humanidade que as religiões degeneradas?
Tolerante por natureza, respeito todos os credos religiosos, mas o que não posso tolerar é a ignorância. Quem é muito sábio ou muito ignorante? Isso não me preocupa. Quando quero investigar algo de Deus, não me dirijo aos livros que tratam da Divindade, nos quais se acham absurdos; antes, prefiro aqueles que narram as vidas dos Homens Eixo do mundo, e, analisando suas vidas, remonto meu espírito a toda classe de possibilidades, uma vez que para o Infinito não há limitações. Deixo, dessa maneira, de olhar a Deus como se fosse um homem, absurdo em que muitos incorrem, desdenhando, por esquecimento voluntário, que não se pode conceber uma Divindade com atributos de homem.
Cristo, o Espírito Maior que já residiu no mundo, ensina claramente o Caminho que conduz ao Eterno, ao qual Ele - para fazer-se compreendido por uma massa de homens materializados - chamou de Pai Celestial.
Mas quem o segue em espírito? Não pregam, acaso, os cristãos que todos são livres e responsáveis por seus atos ante Deus, Supremo Juiz, que vê nossas consciências?
Não é essa também a base da vida entre as relações dos homens, origem dos Direitos Humanos, em suma, da Jurisprudência? A isto deve dizer-se que Cristo ensina tudo ao contrário: a Obediência, não ao homem, mas a Deus, a negação absoluta de todo o humano para chegar à Divindade, acrescentando: "NINGUÉM VEM AO PAI SENÃO POR MIM". O que quer dizer que o que não O segue não poderá chegar à Divindade, por mais que muitos homens assegurem o contrário, ainda que sem dar-se conta disto.
"TUDO OBEDECE À VONTADE DE MEU PAI CELESTIAL", exclama Cristo. Era a voz que pregava no deserto. Somos livres, respondem os homens em meio às trevas, preocupados com seus interesses materiais,
passageiros. Não se preocupam com o Eterno, que levam consigo mesmos.
Não faltam "CEGOS GUIAS DE CEGOS". O mundo os tem aprisionado na Ilusão. O que poderíamos chamar de "a auto-sugestão da Humanidade", é enorme. Todos se crêem "livres", até "absolutos"; porém, com limitações, quer dizer, relativamente.
Tudo está sujeito a leis naturais. Por onde quer que observemos o Universo, em tudo encontramos obediência a leis, quer sejam conhecidas ou desconhecidas. Acaso, não conhecemos as experiências que nos proporcionam a Física e a Química? Não são provas, as afinidades dos corpos? As leis de atração e repulsão? A Lei de Casualidade é a demonstração mais compreensível de que nada é livre.
Cristo, ao dizer "EU OBEDEÇO À VONTADE DE MEU PAI CELESTIAL", está em harmonia com a Natureza. Somente a ignorância ou o fanatismo pode tergiversar a verdade.
Cristo, humilde: "... O FILHO DO HOMEM NÃO TEM NEM UMA PEDRA ONDE RECLINAR SUA CABEÇA...".
Cristo, de sanidade perfeita, superou a todos os homens: era Deus em forma humana.
Cristo jamais solicitou dinheiro, segundo a tradição: quer para ensinar, quer para fazer propaganda de seus ensinamentos. Muito ao contrário, disse: "O QUE DE GRAÇA RECEBEREIS, DE GRAÇA DEVEREIS DAR".
Cristo sabia do seu destino e o daqueles que o rodeavam. Segundo os seus próprios ensinamentos, os Apóstolos foram escolhidos e,
consequentemente, Ele não podia estar em desarmonia com o Espírito Infinito. Não podia, pois rechaçá-los.
Cristo, obediente à Divindade que morava Nele, não se arrependia jamais de seus atos. Agia por Inspiração Divina.
Cristo nunca se proclamou chefe, porque não reconhecia maior autoridade que a de Seu Pai Celestial.
Cristo sempre manifestou que Suas Palavras eram Eternas.
(*)
Titulo Original: Krisnaji visto al traves de los
lentes del Cristianismo, escrito pelo Professor Julio Ugarte y
Ugarte em agosto de 1930, em Oruro, Bolívia
Em
tempo:
O
texto publicado acima com título À Guisa de
Prefácio pode ser
lido em sua íntegra acessando o seguinte link: Khrisnaji
visto através das lentes do Cristianismo.
topo
da
página
Julio
Ugarte y Ugarte
Página
Inicial
|
|