Se estudarmos atentamente os quatro Evangelhos, os Atos e as Epístolas dos Apóstolos, e o Apocalipse de São João, encontraremos que o fundo, a essência da Santa Doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo consiste na Obediência, em pensamento, que devemos ter à Vontade de Deus.
Esta Obediência constitui um estado de consciência que os Apóstolos chamaram: “Cristo em nós”. Assim, pois, Cristo não é um homem, Cristo é um Superior Estado de Consciência que nos liga, que nos unifica a Deus.
Para se compreender este Estado de Consciência, completamente indispensável para a salvação de nossas almas, temos, em primeiro lugar, que adquiri-lo mediante a prática. Sem a prática desta Maravilhosa Doutrina, jamais poderíamos abranger a Sua Divina Beleza e, muito menos, obter seus incalculáveis benefícios.
Mas, antes de praticar a Grande Doutrina, devemos, inicialmente, conhecer as bases sobre as quais se sustenta, já que não deveremos entregar-nos a nenhuma prática espiritual sem conhecer os seus fundamentos, sem pesar, sem meditar na quelo que vamos fazer. Do contrário poderíamos fracassar; porque, com qualquer sofisma, com uma mentira qualquer, em suma, com qualquer ardil ou engano, poderíamos abandonar a Doutrina Eterna; pois o mundo, pensando compreender – segundo as tantas fés que abundam – a Verdadeira Doutrina do Cristianismo, nos arrebataria o único meio da nossa Verdadeira Salvação. Daí, que é necessária uma boa compreensão da Doutrina de Obediência a Deus antes de pôr em prática os seus postulados; porque, quando chegamos a ter uma completa inteligência do que chamou São Paulo: “O Mistério do Cristo”, então, nada nem ninguém poderia arrebatar-nos tão Grande Tesouro.
Antes de entrar na Doutrina do Senhor, haveremos de conhecer algo do que nos falaram os Profetas a seu respeito. Isso se torna necessário, pois ajuda a compreender a Verdadeira Doutrina do Salvador do mundo.
Profecias a respeito da Doutrina do Messias
Nosso Senhor Jesus Cristo, anunciaram os Profetas, “virá ao mundo na semelhança de homem de pecado”. Pois bem, como se compreenderá pelos fundamentos que vou expor, baseando-se na mesma Escritura Santa, o pecado consiste na Desobediência do homem a seu Criador.
Para esclarecimento deste assunto, tomarei as palavras de São Paulo: “Assim como pela desobediência de um só homem o pecado entrou no mundo, e pelo pecado a morte, posto que todos pecaram; assim também, pela Obediência de um só, muitos serão salvos”.
Por Adão, todos somos livres, acreditamos, conforme a tradição. Assim cremos que nós somos livres, que Deus nos deu liberdade de agir, de pensar – o que se denomina “livre-arbítrio” -, sendo portanto responsáveis por todos os nossos atos; livres de escolher o caminho do Bem ou o caminho do Mal. Porém, reconheçamos que jamais poderíamos ser livres de Deus em forma absoluta, pois se assim fosse, negaríamos a existência dAquele Ser, a quem temos que atribuir três atributos: Onisciência, Onipotência e Onipresença e, como resultado destas Potências Infinitas, a Justiça Infalível. Pois bem, este estado de consciência, em que o homem se acredita “livre”, é o que o Evangelho denomina “Lei de Liberdade”, dentro da qual não alcançamos a salvação de nossas almas. “Dentro da Lei de Liberdade ninguém se salva.”
Jesus, pois, nasceu dentro da “Lei de Liberdade”, julgando-se, também, livre, conforme a tradição do mundo, até que chegando na sua meninice, o dom de ver e ouvir, em conformidade com a profecia de Isaías: “Na sua mocidade serão abertos seu ouvido e olhos espirituais”, o Pai se lhe manifestou e ensinou a Sua Doutrina de Salvação, fazendo-o conhecer o Mistério da Sua Vontade, desconhecido até então no mundo. Foi Nosso Senhor Jesus Cristo o primeiro a conhecer a Lei de Obediência e o primeiro a praticá-la, fato que foi profetizado por Isaías, declarando as palavras que o Senhor Jesus exclamaria: “O fazer a Tua Vontade, ó Deus meu, tem agradado minha alma, retira o primeiro para restabelecer o postreiro”, acrescentando como Ele rogaria ao Pai que lhe perdoasse as suas rebeliões.
Conhecedor do Mistério ao qual se refere o Apóstolo São Paulo: “Revelando-nos o Mistério da Vontade de Deus, oculto desde o princípio dos séculos em Deus, que criou todas as coisa e jamais descoberto aos homens”, Jesus, o “Cristo”, ungido pela Obediência desde o instante em que Ele a conheceu, recebeu o Espírito Santo, crescendo Deus com a Sua Sabedoria nEle, à medida que Ele ia conhecendo a Obediência, como deveria ser praticada, quer dizer, dentro dos Mandamentos e Estatutos do Pai, o que fica demonstrado com as seguintes palavras: “E, à medida que o menino crescia, crescia nele o Espírito Santo e crescia em graça do Senhor”. Pela tradição, nada se sabe com certeza desde a aparição do menino Jesus discutindo com os Doutores da Lei no templo em Jerusalém, até que completou os trinta anos, idade na qual começou a sua vida pública, ensinando a Santa Doutrina do Pai. Presume-se que, durante todo esse tempo, se dedicasse a ajudar a seu pai putativo, São José, nas suas pesadas tarefas de carpinteiro daquele tempo; mas o mais justo é que, durante todo esse tempo, uns dezoito anos, Jesus dedicasse grande parte do seu tempo em escutar, em meditar na Doutrina que ia recebendo do Pai, em harmonia com a profecia de Isaías: “Na Tua Lei medito noite e dia”, preparando-se profunda e sapientissimamente para ensinar no mundo o Caminho de Salvação Único, a Sua Santa Lei de Obediência, com justíssima razão chamada a Lei de Deus, a Lei de Cristo, a Lei de Eterna Salvação.
Então, se o mundo desconhece a Suprema Lei, jamais pode ter a sua salvação. A ignorância não salva ninguém. A fé fora da Verdade, é um engano, é inútil: “Adoram-me, porém em vão, seguindo a doutrinas dos homens ou de espíritos”.
Se humanamente ninguém pode se salvar de leis, quer sejam naturais ou políticas, atribuindo ignorá-las, como pode ser aceito que poderá ter sua salvação pela ignorância das Leis Espirituais Eternas do Senhor, se para este fim enviou Seu Filho ao mundo?
A humanidade, no sentido religioso, está muito longe de compreender o Evangelho Verdadeiro do Senhor, pois há muitas e tão diferentes crenças, equivalentes a um número igual de fés. E todas proclamam, ou melhor dito, seu pregadores e respectivos adeptos, que a verdadeira é a que cada um deles professa, não se dando conta que o que realizam é mesmo o cumprimento das profecias: “Existe uma só fé, um só batismo, pois um é o Cristo, um só é o Pai Universal de nossas Almas”.
Está escrito: “Por Jeová são ordenados os passos do homem e aprova o seu caminho”, referindo-se a Nosso Senhor Jesus Cristo, pois Nosso Senhor foi dirigido diretamente pelo Pai, com o Qual entrou em comunhão pela Obediência.
Com estes antecedentes, vejamos agora se existe outro caminho para nossa salvação a não ser a Santa Doutrina de Obediência, que Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensinou com a palavra e com o seu exemplo.
“Quem quiser alcançar a Vida Eterna, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.” Portanto, se não o seguirmos, com mais clareza, se não o imitarmos, não poderemos alcançar a Vida Eterna…
Agora, pergunto a todos os eruditos, a quantos têm lido os Evangelhos, onde consta que os que se acreditam livres se salvarão? Onde está esse ensino que todas as religiões ou seitas pregam por toda parte asseverando a liberdade do homem? Quer dizer, ficando dentro da Lei de Liberdade, dentro da qual ninguém se salva, estarão sujeitos a julgamento: “Os livres serão julgados segundo suas obras”, portanto, para eles não há salvação. Precisam os homens entrar na Santa Lei de Obediência para serem salvos. E esta Lei só se faz compreensível, quando se despe dos preconceitos, desse acúmulo de falsas interpretações que o dominam, ficando autossugestionado com os princípios errôneos, falsos princípios duma ciência humana, que se chama Teologia, e na qual nada se sabe de Deus, pois, como toda pessoa medianamente culta conhece, esse é o ponto mais fraco de todos os sacerdotes de todas as seitas.
Principiemos, consequentemente, por ler sem por obstáculos, procurando compreender, antes que negar pelas sugestões recebidas desde há séculos. Somente desta forma se poderá aquilatar o valor da Verdadeira Doutrina, a qual devemos conhecer, pois nela se baseia a nossa Salvação Eterna, muito mais, que as profecias nos anunciam muito anteriormente, como é que se verifica uma completa deturpação da Doutrina do Senhor, como também, o mesmo Senhor Jesus Cristo nos antecipou todas as coisas que teriam que suceder, esclarecendo-se o mistério da substituição da Verdade pelo Erro.
Existem tantas profecias a respeito que, quem quiser saber todos os detalhes, pode ler o Novo Testamento, onde encontrará infinidade de versículos que tratam do assunto de forma insofismável.
(*) Este documento foi escrito por Julio Ugarte y Ugarte. No original, não constava o local nem a data. Livro Vontade e Inteligência p. 47 a 51.