Nada mais impressionante que a sublime tragédia do Calvário; concretizam-se nela toda a grandeza e glória do Filho do Homem; daquele homem cuja única ambição foi viver para Deus, renunciando toda glória dos homens; daquele cérebro gigantesco onde pousou a magnificência do Espírito em toda a Sua plenitude! Porém, incompreendido, Ele, a Verdade Eterna, a Onipotência Absoluta limitada a si mesma, teve coroação infinitamente gloriosa quando, cumprida a sua missão Redentora da Humanidade, retorna à Casa do Pai: a Onipotência que se absorve a si mesma; a Luz que se atrai a si mesma; a Vida que se torna a si mesma!
Passaram-se os séculos, milhões e milhões de almas passaram pelo mundo, mas a História permanece imanente. Inconfundível entre todos os seres, o Astro Rei da Sabedoria e do Poder permanece, após longo eclipse, enviando seus divinos raios para aqueles que, renunciando à sua própria glória, mais à glória dada pelos homens, sujeitam-se à Lei Divina, à Vontade Criadora e que anima tudo quanto existe, os Céus e a terra, o manifestado, que se manifesta só quando são despertados em nós os sentidos internos, à medida que atuarmos em harmonia com a vida interna do Cristo; nesse estado de consciência superior, que nos liga ao Pai dos espíritos.
Jesus não é somente um homem, é Deus! O corpo físico, a sua substância etérea, ocultavam à sabedoria humana a Essência Absoluta, a Potência das Potências, o Rei dos reis e o Senhor dos Senhores!
Os homens foram humilhados e sua sabedoria amaldiçoada, pois foram incapazes de poder reconhecer ao seu próprio Criador!
A humanidade leva este estigma sobre as suas costas. Na sua cegueira, infla-se e, na vaidade de sua auto-capacidade e poderio, não respeita nada, só respeita as suas próprias convicções.
Esquece a humanidade sua limitação, sua insignificante ou nula inteligência em relatividade aos atributos divinos! Os homens tudo sabem, tudo interpretam em matéria divina ou religiosa; tal coisa sucede sempre. Os primeiros que tinham obrigação de conhecer os tempos, os sapientíssimos doutores da lei, inchadíssimos em sua sabedoria humana, foram os primeiros que, em defesa dos seus interesses, sem inquirir, sem pedir luz ao Criador, condenaram à morte, entre dois mal feitores, o ser mais apreciado que jamais veio ao mundo: o Filho Unigênito! Semelhante injustiça perpetrou a justiça dos homens.
Os sacerdotes da lei mosaica e o governador Pôncio Pilatos refletem as conveniências, os interesses criados, duma geração corrupta de entendimento e réproba da Verdade.
Uns quantos homens humildes, pequena minoria, dão crédito à Verdade e depois de longas lutas de poucos dias que pareciam uma eternidade, com quedas e levantes, triunfa vitoriosa. Nada valem, então as opressões e vilipêndios, os ultrajes, as calúnias, todo mal, o cárcere ou o martírio, a Luz do Evangelho burla-se das trevas e ilumina a consciência do mundo.
A luz esplendorosa da Santa Doutrina rompe com os preconceitos da mente materializada dos homens, é a alva dos primeiros tempos do Cristianismo, a idade de ouro em que a estrela da manhã fecundou as mais elevadas concepções da civilização do mundo!
O Homem-Símbolo resplandece e é glorificado, mas esta glória não vinha dos homens, vinha de Deus, através da revelação.
Passaram-se os séculos… Quadro espantoso e aterrador… de uma fé, dum batismo, de um Cristo e Pai e Senhor Nosso, criaram-se milhares de fés, milhares de batismos, milhares de cristos e senhores! Escrevo como quem não tem crença, carente de religião, como alguém que procura encontrar a Verdade, dispondo só do discernimento comum. Milhares de vozes se levantaram chamando: Vem, ó meu amado irmão! Aqui está a verdade! A salvação! A vida eterna está aqui! Fico perplexo, aquele ser que quando menino imaginava ser meu único amor, um só e nada mais que Um, estava tão completamente dividido? Não pode ser assim, responde a consciência. Se os Apóstolos declaram que uma é a fé, um o batismo, um Cristo e Pai e Senhor nosso!… Cada seita tem a sua fé, a sua interpretação das palavras do Senhor Jesus Cristo e falam com tanta sagacidade, com tanta, quase digo fé, que se termina por não acreditar em nada, como fiz eu em rapazinho e dediquei-me a orar pela minha conta o melhor que podia fazê-lo, sem outra bússola que o temor de Deus e perseverante oração.
(*) Este documento foi escrito por Julio Ugarte y Ugarte. Não constava data no original. Publicação inédita do Boletim Informativo da Igreja Cristã Primitiva nº 11.