Se meditarmos no Cristianismo e a situação mundial, facilmente chegaremos à conclusão de que a força moral da Religião está em completo estado de decadência… Não nos deve estranhar essa falta de compreensão existente entre os homens, se considerarmos que falta o alicerce da paz e da harmonia internacionais, que se baseia na estrutura moral orientada dentro de princípios eternos, enquadrada na prática do Decálogo de Moisés, nos Dez Mandamentos Divinos divulgados por todo o mundo.
Sem o cumprimento desses Dez Fundamentos, a moral não existe, já que não pode existir o Bem onde existe o Não-Bem; pois seria um absurdo imaginar que a transgressão às leis divinas ficassem sem justa retribuição. Em consequência lógica, a situação atual do mundo é o resultado das rebeldias dos homens para com o Seu Criador. Noutros termos, que o homem não entrou em harmonia com essas leis, que, no fundo, constituem dez Vontades do Senhor dos Céus e da Terra.
Sabemos não existir diferença entre as leis físicas e as leis espirituais no referente à transgressão, por provirem ambas as categorias de leis de uma só Fonte Criadora. Se toda a transgressão às leis físicas, feita consciente ou inconscientemente, nos resulta desfavorável, pondo a nossa vida em perigo, em proporção à nossa transgressão, por ventura a transgressão às leis divinas, espirituais, ficará sem Justiça? Todo argumento em contrário seria falta de compreensão, de inteligência. A humanidade sofre e terá que sofrer, cada dia que passa, maiores provações, porque o homem não se preocupa com as leis espirituais, que não as enxerga com os olhos físicos, na mesma forma que observa, compreende e aproveita as leis que regem materialmente o universo.
Nota-se uma grande confusão na aplicação dos diversos métodos e sistemas para efetuar o desenvolvimento das faculdades intelectuais, predominando, preferentemente, a conveniência dos interesses criados, – já sejam, estes de índole religiosa ou política, por exemplo, antes que as conveniências científicas, como se depreende do fato de que no ensino público universal muito deficientemente se aproveita o que se liga ao desenvolvimento integral das faculdades mentais e espirituais do aluno, do menino, do jovem, do futuro cidadão, do futuro governante, da futura sociedade.
Sem aplicação conveniente desse sistema aconselhado pela pedagogia moderna, resulta o desenvolvimento deficiente, imperfeito, das faculdades mentais, produzindo casos de verdadeira loucura em pessoas aparentemente dotadas de grande força de vontade, que dominam e atraem criaturas semelhantes, desprovidas de equilíbrio no desenvolvimento das suas faculdades mentais; destarte, os erros se espalham por toda parte.
A omissão anotada é comparável à que pretendêssemos desenvolver o corpo deixando um órgão inativo, o que viria a acarretar o consequente prejuízo no indivíduo em particular e na sociedade da qual forma parte integrante. O desenvolvimento anormal de um órgão, de um membro do corpo, é uma enfermidade; assim sucede, também, com o desenvolvimento anormal das faculdades mentais.
Não poderemos endireitar um tronco torcido. Cérebros cheios de preconceitos, pelas causas referidas, formam a classe dos retardatários, daqueles que acreditam não haver coisa melhor do que as suas próprias “convicções”.
Não poderemos elevar o nível moral da sociedade, sem atender à elevação das unidades que a formam; devemos, primeiro, elevar o nível do indivíduo, em particular.
Por isso, nada temos adiantado com discursos de moral científica ou religiosa durante séculos. A humanidade acha-se em piores condições do que antes. E, para sair desse erro, devemos averiguar as causas e não julgar e comentar os fatos pelas aparências. Impõe-se o método científico: nenhum médico poderá clinicar com cordura, se primeiro não investiga e conhece a causa da doença, para combater o mal na sua origem. Em sociologia, devemos adotar igual procedimento.
A vida é uma constante experiência, isto está exposto no livro da Natureza. Não aproveitar as experiências é a resultante da falta do desenvolvimento das faculdades intelectuais, ocorrendo o caso muito comum, que anuladas as faculdades objetivas ou conscientes, como sucede no caso do fanatismo científico, político ou religioso, manifestadas, às vezes, com aparência de inteligência.
A vontade exerce um rol preponderante na vida; mas, se esta faculdade não está devidamente desenvolvida, auxiliada pelo discernimento, que, por sua vez, necessita do Conhecimento verdadeiro, quer dizer, base moral divina fundamentada nos Dez Mandamentos, resulta negativa, infernal, diabólica.
A vontade é a faculdade da qual derivam todas as faculdades mentais, pois esforço trás esforço da vontade para compreender, desenvolve a inteligência, verificando-se igual processo natural, consciente ou inconscientemente, de todas as nossas faculdades da mente.
Qualquer desequilíbrio ou omissão no desenvolvimento dessas faculdades redunda em enormes males para o indivíduo, para a sociedade e para o mundo! Os defeitos na educação da mente têm dado os seus frutos nos Neros, nos Herodes, nos Judas Iscariotes, nos Inquisidores, nos Hitlers, nos Mussolinis e todo o séquito de tiranos e criminosos, grandes e pequenos, que enchem as crônicas negras da história universal.
A Inteligência necessita do auxílio do Conhecimento, pois resultaria um absurdo pretender formar um juízo direito ou razoar sobre aquilo que desconhecemos. E como o Conhecimento do homem é limitado, relativo, em sentido geral, a inteligência, em sentido geral, se vê sempre limitada, relativa, imperfeita.
Mas quando, além do conhecimento humano, penetramos e praticamos os ensinamentos divinos, então podemos ser perfeitos, porque estamos em harmonia com o Todo, porquanto temos desenvolvido integralmente nossas faculdades mentais e espirituais, como o vemos comprovado com esta recomendação evangélica: “Sede perfeitos como Deus é perfeito”.
Porém esta perfeição não pode ser compreendida pelos imperfeitos que, invertendo a verdade sem discernimento espiritual, ao Mal lhe chamam Bem, e ao contrário. Foram os ímpios – os imperfeitos – os crucificadores de Nosso Senhor Jesus Cristo, os perseguidores da Sua Doutrina da Obediência à Vontade Divina.
Se, por um lado, o desenvolvimento do intelecto proporcionou a multiplicidade da Ciência, em troca, do abandono das faculdades espirituais, redundou em maiores sofrimentos para o mundo.
Os homens nas suas concepções religiosas, costumes, idiomas, etc., são o resultado do meio ambiente em que vivem e, sendo assim produto do seu ambiente, não podem modificá-lo senão em parte. A esta regra não fugiu Nosso Senhor Jesus Cristo, pois seu próprio meio o crucificou.
Motivo pelo qual vemos tantas fés religiosas que não são o resultado de um estudo consciente, senão da sugestão do meio ambiente, imposta desde a meninice, a idade em que se plasma o cérebro.
Poucas são as pessoas em relatividade, que rompem os grilhões da sugestão do medo e se independizam do seu meio ambiente.
Temos que aprender a raciocinar, não aceitando nada “a priori”, sem prévia demonstração, como se procede no campo científico.
Cristo nos salvou, mas pondo-se como exemplo para que o imitemos. Nada adianta saber e crer que Cristo é Deus, se não lhe obedecemos. Sem a imitação do Cristo não há Cristianismo verdadeiro, os desobedientes, todos os dias, estão crucificando ao Redentor dos que lhe obedecem.
Se quisermos possuir o juízo justo, aprendamos de Nosso Senhor Jesus Cristo; pensemos como Ele pensou: “Meu juízo é justo porque eu não procuro fazer a minha vontade, mas a Vontade dAquele que me enviou, o Pai”.
(*) Este documento foi escrito por Julio Ugarte y Ugarte. Publicado no Correio do Povo em 26 de março de 1948 e Boletim Informativo da Igreja Cristã Primitiva n°15.