Solenemente lançada a Pedra Fundamental do Novo Templo da Igreja Cristã Primitiva em Terreno Doado Pela Prefeitura (*)
Segundo havíamos anteriormente noticiado, teve lugar, domingo último, pela manhã, a solene cerimônia do lançamento da pedra fundamental do novo templo São Paulo da Igreja Cristã Primitiva, em terreno que lhe foi doado pela Prefeitura de Porto Alegre, como parte integrante dos festejos oficiais da Semana da Pátria.
A numerosa concorrência que assistiu ao ato e entusiasticamente aplaudiu os oradores que se fizeram ouvir, consistiu singular e expressiva demonstração do prestígio que reveste a doutrina cristã pregada pelo Professor Julio Ugarte y Ugarte, Mestre Espiritual da Igreja.
De fato, fundada precisamente há sete anos no Rio Grande do Sul, a Igreja Cristã Primitiva já conta com milhares de adeptos em todo o Estado, possuindo templos próprios em Porto Alegre, Gravataí, Rio Grande, João Rodrigues, Ramiz Galvão e outros pontos vizinhos à esta capital e no interior.
Os fundamentos básicos desse credo religioso, que exclui qualquer ideia de fanatismo, podem ser conhecidos através dos discursos que damos à estampa a seguir, pois os oradores, sem se aprofundarem no tema, afloram os pontos capitais em que assenta a Doutrina da Obediência a Deus, que vai, cada vez mais, fazendo prosélitos e curas pelo Rio Grande afora.
O Início da Cerimônia
Pouco depois das 10 horas, começaram a chegar os primeiros assistentes ao local indicado para o ato (o amplo terreno situado à Avenida Ipiranga), enquanto uma banda de música militar enchia o ar com os acordes de marchas marciais e patrióticas.
No centro, erguia-se um alteroso mastro, onde tremulava o auriverde pendão da terra brasileira, a que faziam círculo vinte e um outros mastros, onde, também, farfalhavam ao vento as bandeiras das vinte e uma repúblicas americanas.
Às 10h30min, acompanhado da Diretoria da Igreja Cristã Primitiva, chegou ao local o Professor Julio Ugarte y Ugarte, ocasião em que os porta-estandartes ocupavam seus lugares empunhando as bandeiras do Brasil e dos Estados Unidos e o estandarte da Igreja Cristã Primitiva.
Chegaram ali, também, especialmente convidados, os srs. J. P. Coelho de Souza, secretário de Educação e Cultura, João Bergmann, representante do prefeito Dr. Brochado da Rocha, além dos representantes de outras altas autoridades, imprensa, associações religiosas, etc., etc.
Fala o Professor Ugarte
Feito silêncio, a banda musical iniciou a execução do Hino Pátrio, vocalizado por todos os presentes. Logo após, o Professor Julio Ugarte y Ugarte, Presidente e Mestre Espiritual da Igreja, pronunciou aplaudidíssimo discurso, que vai publicado em destaque noutro local desta notícia.
Lançamento da Pedra Fundamental
Serenados os aplausos entusiásticos que abafaram as últimas palavras de sua senhoria, teve lugar a solene cerimônia do lançamento da pedra fundamental do novo Templo São Paulo, obedecendo-se ao rito habitual seguido no caso.
A assistência vocalizou, então, belo hino religioso – “Obediência a Deus” -, ouvido com recolhimento e respeito por todos quantos concorreram ao expressivo ato, que marca um acontecimento decisivo na história da pregação e desenvolvimento da Doutrina da Igreja Cristã no território nacional.
O primeiro secretário da Igreja, sr. João Pedro Coelho Leal, procedeu, logo após, a ata alusiva à brilhante cerimônia que ali estava se realizando.
O Discurso do Professor Julio Ugarte y Ugarte
“É uma Obra Altamente Patriótica e Humanitária a Que Realiza a Igreja Cristã Primitiva”.
“A Igreja Cristã Primitiva, que me honro em presidir e representar, resolveu, em homenagem à Semana da Pátria, efetuar a cerimônia do lançamento da pedra fundamental do novo templo São Paulo, nos dias em que o nosso amado Brasil comemora jubilosamente o 122º aniversário da sua emancipação política, nos dias em que o coração de todos os brasileiros, de governantes e governados, bate ritmicamente, ao mesmo som em que a alma coletiva da nacionalidade vibra de entusiasmo cívico, evocando os próceres da Pátria, que nos legaram nacionalidade, liberdade e do sublime exemplo de suas excelsas virtudes cívicas, que culminaram com a cristalização dos nossos altruísticos ideais, do seu heroísmo triunfante, apresentando o Brasil entre as nações livres e soberanas do orbe! Na gloriosa efeméride, comemorada em todos os 21 países americanos, cujas bandeiras, reunidas neste ato solene, simbolizam a união e a potência invencível de todos os povos da América.
Digníssimos senhores e senhoras:
Sob os auspícios do símbolo imaculado da bandeira auriverde, que tremula vitoriosa na paz, que enaltece o Brasil mediante o trabalho fecundo dos seus filhos, como nos campos de batalha que triunfou e triunfará sempre na defesa da integridade e soberania territoriais, é que a Igreja Cristã Primitiva por mais uma vez de manifesto que os seus altos fins espirituais caminham paralelos com os sentimentos cívicos, já que o labor moral dos sacerdotes de todos os cultos se funde num só amor: o Culto à Pátria!
E se o amor à Pátria nos une num só nobilíssimo sentimento, o amor à humanidade – o amor aos semelhantes – nos eleva ao verdadeiro amor a Deus; por isso, nosso lema é: Deus e Pátria, em todas as nossas atividades, e identificados neste ideal trabalhamos no Brasil e pelo Brasil, em toda a América nossa, para levar a todas as nações do mundo o facho espiritual que ilumina as consciências, cooperando entre suas múltiplas finalidades, à paz internacional permanente. Doutrina que faz jus à potência intelectual do Continente Americano, onde já brotam os rebentos da Videira incomparável do Cristianismo Primitivo, que nos dá a beber do vinho generoso e inesgotável da Verdade!
Digníssimos senhores e senhoras:
Temos dois mártires gloriosos a imitar. Um deu sua vida em holocausto da formação de uma nova Pátria, o Brasil! O outro deu sua vida em holocausto de uma nova Pátria Celestial! José Joaquim da Silva Xavier e Jesus, o Cristo! Ambos são redentores: Tiradentes tira da escravidão a um povo; Jesus tira da escravidão ao mundo! Tiradentes salva da escravidão dos homens; Jesus Cristo salva da escravidão do pecado.
Unam-nos na imitação de ambos e seremos dignos filhos do Brasil e dignos filhos de Deus! Os próceres da nacionalidade nos ensinam o nosso dever para com a Pátria; o glorioso Mártir do Calvário nos ensina o nosso dever para com Deus!
À Pátria devemos obediência; dobrada obediência devemos ao nosso Criador! Pois, por Ele existimos nós e temos uma Pátria livre e soberana! Por Ele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra!
Se sabemos obedecer à Pátria, aprendamos a obedecer a Deus em todos os nossos atos, seguindo o exemplo de Cristo, que renunciou para Deus sua vontade humana, sua liberdade, seu livre arbítrio, e ‘se fez obediente ao Pai até a morte, e morte de cruz’, TOMANDO OUTRA VONTADE, superior, eterna, a suprema Vontade daquele que lhe enviou, o Pai! Rasguemos com Cristo o véu, destruamos com Cristo o muro da terrível separação que nos distancia de Deus. Façamo-nos com Cristo uma só coisa, para ser com Deus um só Espírito!
Nestes tempos angustiosos, o Evangelho da Obediência do Cristo renasce com a pujança espiritual das suas virtudes, com a força insofismável da Realidade!
Se desejarmos alcançar a nossa salvação do jugo do Erro, deveremos fazer-nos servos verdadeiros do Altíssimo!
Complementemos nosso dever patriótico, acrescentando nosso dever para com Deus; sejamos bons cidadãos da Pátria Celestial!
Sem a obediência não há salvação, porque: “Dentro da lei da liberdade, ninguém se salva”, conforme consta do santo Evangelho do Senhor.
Digníssimos senhores e senhoras:
O Brasil, nestes dias tormentosos que enlutam o mundo, recebeu as bênçãos divinas, sendo o berço do renascimento do Cristianismo Primitivo, bênçãos que estão sendo espalhadas por toda a América, para que sejam aproveitadas por todos os povos do mundo, por todas as almas que estão inscritas no Livro da Vida!
Nenhuma Doutrina iguala em grandeza à imortal obediência de Nosso Senhor Jesus Cristo, a obediência dos primeiros cristãos; a única que é fonte de onde emanam as águas cristalinas da purificação de nossas almas! A única capaz de regenerar a humanidade, preparando-a para a Segunda vinda do Senhor. Doutrina de consolo e de esperança, que nos livrará, também, das pragas profetizadas no Apocalipse de São João.
Digníssimos senhores e senhoras:
A humanidade não poderá salvar-se das consequências lamentáveis que a desolam, se não estudar as causas do mal, se não mudar os métodos e sistemas empregados na formação espiritual do indivíduo, de sorte a harmonizar-se com o progresso realizado pelos Homens-Guias, por aqueles que – antecipando-se à sua época – determinaram rumos estáveis permanentes para alcançar-se o máximo de perfeição moral. Eles destacaram-se sobre os demais homens não só pelos seus ensinamentos, mas também pelos seus feitos prodigiosos, pois todas as palavras sem fatos e sem a força proporcionada pela comprovação perdem todo o seu valor, daí que todos os seus discursos de índole moralista – produto tão só da imaginação dos homens – não bastam para transformar a humanidade. E os fatos dos nossos dias põem em evidência que, se os homens progrediram materialmente, em troca, a sua espiritualidade desorientada não pode evitar a maior catástrofe da História!
Virá a paz, se estabelecerá a lei internacional a fim de impedir a realização de novas guerras, mas, consequentemente com a lógica, essa lei – semelhante à lei que rege as relações entre os homens, com seus efeitos preventivos e punitivos – não poderá ter, em relatividade, maior alcance do que esta última na vida internacional; pois sempre se terminará por recorrer à guerra para obter a paz universal! Isto na suposição de que o novo tribunal internacional estivesse inspirado na melhor nas intenções, na mais estrita justiça em suas deliberações.
Portanto, já que – sem dispor de força material para essa finalidade – não se pode fazer uma reforma global da humanidade para ter paz e tranquilidade entre as nações, é de imensa importância descobrir os erros, onde quer que se encontrem, e construir um novo modelo de indivíduo, com sólida força moral, capaz de se governar a si mesmo, dominando os seus instintos inferiores, os sentimentos depravados. E, para isso, deve experimentar-se ou exercitar-se a única Doutrina predicada por Jesus Cristo, interpretada no sentido profundíssimo de que o homem sem a obediência interna a Deus, dentro do Bem, dentro dos santos mandamentos e estatutos do Criador, jamais poderá salvar-se dos seus maus atos e, por consequência, as nações não poderão dispor da paz, indispensável para seu engrandecimento espiritual e material.
Digníssimos senhores e senhoras:
‘Se a Justiça engrandece as nações, e o crime da injustiça as faz infelizes e miseráveis’, devemos convir que será preciso buscar a Justiça, sendo justos em reconhecer que, fazendo nossas vontades – por muito bem inspiradas que pareçam – estamos dentro da injustiça, se não reconhecemos que toda a obra boa que nós praticamos vem de Deus.
Digníssimos senhores e senhoras:
É uma obra altamente patriótica e humanitária a que realiza a Igreja Cristã Primitiva, procurando unir os esforços de todos os credos religiosos, cooperando para maior estabilidade social, para uma melhor situação, em que possam os homens viver na tranquilidade, que gera a harmonia e o trabalho em todas as suas fases; encaminhando todos os seres à corrente que a todos une, a do Cristo. Somente nesta santa rota é que poderá a humanidade converter em realidade os seus anelos – irrealizados porque se separou da grande Lei espiritual que a unifica a Deus.
Nossa doutrina é realmente universal e está amparada por ser a essência do Cristianismo, a base sobre a qual se cimentam todas as religiões que se denominam cristãs. E, nessa confiança, aspira a que a obediência do Cristo sirva de norma de conduta a todos os cristãos, em geral, que devem abandonar toda a ideia oposta à prática interna da obediência do Cristo, e com essa mesma vontade pessoal – que todos julgam ter – devem fazer-se obedientes à Vontade Onipotente de Deus, fazendo de ânimo, mentalmente, em pensamento, essa Vontade, à qual ficarão unidos, realizando, dessa forma, a verdadeira comunhão dos santos; e sendo – com Cristo – uma só Vontade com a Potência Criadora e Regedora dos destinos do Universo. Assim, poderemos identificar-nos com Aquele a quem obedecemos, cumprindo-se as palavras do Senhor: ‘Não sabeis que vós também sois deuses, e que o Espírito de Deus faz todas as coisas em vós?’. Todos, pois, sem exceção, temos o mesmo direito, porquanto para Deus não há acepção de pessoas.
Na aspiração tem fundamentos tão sólidos que não poderá existir alma alguma amante a Deus que se oponha a essa obediência, reconhecida pelos homens mais puros de todas as grandes religiões, e, entre os grandes filósofos, reconhecida pelo divino Platão, pai da Filosofia.
Assim, necessária é uma maior compreensão dos fins grandemente proveitosos que colima a Igreja Cristã Primitiva, seja de índole espiritual, seja moral, seja intelectual e material, pois desta compreensão dimanam muitíssimos benefícios para os cidadãos, assim como para as nações, que seria impossível descrever num discurso: são as riquezas inescrutáveis do Cristo em nós.
Por estas causas é que cheios de fé, pletóricos de júbilo, lançamos a pedra fundamental do novo Templo São Paulo, esperando a colaboração valiosa de todos os homens que sinceramente amam a Deus, à Pátria e à Humanidade.
Em nossos peitos, não se abrigam ódios nem rancores; não fazemos guerras em sentido algum a quem quer que seja, por causa das suas crenças religiosas; procedemos com a sinceridade digna do respeito que mutuamente todos merecemos, combatendo, sem dúvida, o fanatismo, o vício, o crime, indicando a forma de como suprimi-los: a obediência a Deus, fazendo conscientemente a Vontade de Deus, como os anjos do céu, como está exposto na única oração ensinada por Nosso Senhor Jesus Cristo, nessa famosa oração que leva por nome o ‘Pai Nosso’ – resumo de sua santíssima Doutrina de amor, pois Deus é Amor, segundo a definição do apóstolo São Paulo, no seu Evangelho.
Com tão patrióticos e humanitários sentimentos, o templo que se vai erguer nesta metrópole servirá para congregar todas as almas que, unidas pelo sentimento de se fazer com Deus uma só Vontade, amam a Deus, ao seu Filho Jesus Cristo, à sua Pátria e à Humanidade.
Esta pedra angular do edifício, que hoje colocamos, simboliza o estabelecimento da pedra angular do edifício de Cristo em nós. Por isso, todos os que cremos e praticamos conforme a exortação evangélica, estaremos representados pelas pedras deste templo, figura da Igreja de Cristo na sua pureza diamantina nos primeiros tempos apostólicos.
Digníssimos senhores e senhoras:
Glória a Deus nas maiores das alturas e paz na terra aos homens de boa vontade! Glória aos próceres da Independência! Glória ao Brasil!
(*) Jornal Correio do Povo, 07 de setembro de 1944
Em tempo: Nesta reportagem do Correio do Povo enfocando a Semana da Pátria, além do discurso de Julio Ugarte y Ugarte, também foram publicados os realizados por Manoel Annes Sobrinho e Joaquim Elias de Mello, pronunciados na mesma ocasião. Por serem estes dois discursos faltantes nesta página importantíssimas fontes da época e do que era pregado na Igreja, pedimos a você: se tem acesso a este material ou se ele está em seu acervo, digite o mesmo e nos envie por e-mail ou carta. Veja como nos enviar clicando aqui.