A reportagem teve oportunidade de assistir quarta-feira última, na localidade de João Rodrigues, 6º distrito do município de Rio Pardo, os festejos comemorativos da passagem do 4º aniversário da fundação, ali, do Templo São Pedro, que é uma ramificação da Igreja Cristã Primitiva, que tem sua sede nesta capital, instalada à rua General João Manoel, nº 327.
Para o repórter não era nenhuma novidade o que lhe seria dado naquele próspero lugar, porquanto, por intermédio do Professor Julio Ugarte y Ugarte, chefe daquela Igreja, já era conhecida a situação destacada mantida, no terreno espiritual, pela doutrina que se difundiu grandemente naquela zona e em muitos pontos do país e da América.
O professor Julio Ugarte y Ugarte, que proporcionou aos jornalistas uma viagem a João Rodrigues num dia de festa para os seus habitantes, não revela em sua simplicidade exterior a força psíquica de que é portador e com a qual conseguiu transformar uma série de situações embaraçosas de centenas de pessoas, agora livres de certos males que as infelicitavam. E o que o repórter pode ver e assistir em João Rodrigues, durante as horas que ali esteve, é o bastante para que pudesse formar um juízo seguro de que a atividade espiritual orientada e desenvolvida pelo Professor Ugarte y Ugarte somente tem proporcionado benefícios, que os contemplados sabem reconhecer.
A chegada do trem a João Rodrigues, por exemplo, foi uma demonstração de reconhecimento de várias centenas de fiéis, que ali aguardavam o seu Mestre. Ao descer do carro, o Professor Ugarte foi cercado por uma compacta multidão de homens e senhoras de todas as idades, bem como por uma infinidade de meninos e meninas, desejosos todos de abraçá-lo em primeiro lugar e, a todos, o Mestre de Igreja Cristã Primitiva respondia com uma palavra de carinho.
Logo após a saída do trem, as quinhentas pessoas que ali se achavam seguiram para a residência do senhor Manoel Nunes, fazendeiro radicado em João Rodrigues há mais de 40 anos e considerado como o pioneiro da localidade. Por todo o trajeto da estrada até a casa do senhor João Manoel Nunes, distante meio quilômetro, mais ou menos, da gare da Viação Férrea, o Professor Ugarte ia recebendo manifestações dos moradores, que aguardavam sua passagem defronte suas residências.
Como teve início a Doutrina em João Rodrigues
A família daquele fazendeiro recepcionou a comitiva com encantadora espontaneidade. Num local preparado à sombra do arvoredo, defronte à residência do senhor João Manoel Nunes, foi servido um churrasco à gaúcha a mais de 400 pessoas que, naquele dia, não tiveram outra preocupação senão participarem dos festejos que assinalavam mais um ano de existência do Templo São Pedro, construído modestamente, ao lado da casa daquele fazendeiro, por motivos que o repórter mais tarde veio a saber.
A preferência que o Professor Ugarte y Ugarte deu a João Rodrigues para difundir a sua doutrina nasceu do interesse que a família do fazendeiro João Manoel Nunes manifestou nesse sentido, quando teve salva uma filha, que vivia sob uma depressão nervosa impressionante. Trata-se de d. Carolina Teixeira Nunes, que, dum momento para outro, começou a sentir os reflexos de uma doença nervosa, que se agravou rapidamente a ponto de ser a enferma trazia para esta capital num carro especial da Viação Férrea.
Em Porto Alegre, os pais de d. Carolina, por intermédio de informações de pessoas amigas, souberam que o professor Ugarte y Ugarte, que se encontrava no Rio de Janeiro, por meio de sua potência psíquica, já havia curado outras pessoas afetadas pelo mesmo mal. O senhor João Manoel Nunes, para salvar sua filha não aguardou outros conselhos: mandou buscar de avião o Professor Ugarte no Rio e, dias depois, d. Carolina, com o tratamento a que foi submetida no terreno espiritual, estava completamente curada.
Em sinal de reconhecimento, o seu progenitor resolveu mandar construir o templo ao lado de sua casa e, desde então, a doutrina da Igreja Cristã Primitiva começou a ser difundida em João Rodrigues, isto há quatro anos, atraindo a atenção de centenas de moradores de outros municípios.
Desde essa época, segundo afirma o comerciante Aparício Oliveira Cunha, João Rodrigues teve um impulso em seu desenvolvimento. Foram construídas diversas casas de material e o núcleo de povoação tomou maior incremento. Desenvolveram-se as lavouras de arroz, foi instalada uma olaria e iniciadas outras obras, dando, assim, uma demonstração do progresso que ali se observa dia a dia.
Os Festejos no “Templo São Pedro”
Às primeiras horas da tarde, tiveram início os festejos no “Templo São Pedro”. A reunião foi aberta pelo professor Ugarte, que ali é conhecido como Mestre Espiritual da Doutrina da Igreja Cristã Primitiva.
Em seguida, tomou posse a nova diretoria do Templo, para o ano de 1944-1945, eleita numa reunião presidida pelo Professor Ugarte.
Nessa ocasião, fez uso da palavra o ex-presidente do Templo São Pedro, que fez um histórico da atividade desenvolvida pela diretoria cujo mandato acabava de expirar, seguindo-se com a palavra o atual presidente, que concitou os adeptos da Doutrina a permanecerem no mesmo caminho que vinham trilhando até agora, dentro de um ambiente de felicidade e de desenvolvimento espiritual.
Por fim, antes de ser encerrada a reunião, o Mestre Espiritual realizou mais de cinquenta batizados, dentro do ritual da Doutrina.
O Lançamento da Pedra Fundamental do Novo “Templo São Pedro”
Discurso do Mestre Ugarte
Em virtude do desenvolvimento que a Doutrina teve em João Rodrigues, onde a população em geral é orientada pelos ensinamentos dados pelo Chefe da Igreja Cristã Primitiva, o atual templo não comporta o grande número de fiéis que ali comparecem, pois chega a ficar do lado de fora mais da metade dos adeptos.
Por esse motivo, o Sr. João Manoel Nunes resolveu doar um terreno em campo de sua propriedade e situado nas proximidades de sua residência para nele ser construído o novo templo, que será todo de material.
À tarde, teve lugar a solenidade do lançamento da pedra fundamental, à qual compareceram centenas de pessoas. Nessa ocasião, o Professor Ugarte y Ugarte pronunciou o seguinte discurso, pelo qual o leitor poderá ter uma ideia geral das bases em que se firma a Doutrina pregada pelo Mestre Espiritual da Igreja Cristã Primitiva.
“Minhas senhoras, meus senhores. Meus irmãos em Cristo, meus irmãos na obediência a Deus.
Reunidos pela santa vontade de Deus, a Quem obedecemos em nossos corações, invocamos o seu Espírito Santo para que abençoe a pedra fundamental deste templo, que se vai construir e que simboliza o edifício de Cristo em nós.
Cada um dos obedientes estará representado pelas pedras deste templo. Que a vossa união na fé de Nosso Senhor Jesus Cristo e Pai Nosso seja sempre firme, bem ligada, sobre a base sólida da “rocha viva”, que é a pedra angular da nossa fé baseada na razão, a fé consciente e raciocinada que recebestes desde o princípio de vossa entrada na corrente salvadora, que nos faz retornar à casa paterna de nossas almas, explicada na famosa parábola do “Filho Pródigo”, em que o filho pensa na sua felicidade, voltando a fazer a Vontade soberana do Pai, a qual abandonara antes da criação do Universo.
Meus caríssimos irmãos:
Em tempos difíceis, em tempos angustiosos, de conformidade com as profecias, levanta-se a Doutrina de Obediência à Santíssima Vontade de Deus, dentro do Evangelho, lembrando aos homens a obediência que devem ao seu Criador, negando suas vontades particulares, para, à semelhança de Jesus Cristo, fazerem de ânimo, em pensamento, a Vontade Toda Poderosa de Deus, realizando os ensinamentos evangélicos, da imitação do Cristo, fazendo-nos obedientes até a morte. Assim, damos a glória que Jesus Cristo deu ao Pai. Permanecendo nesta Doutrina, nos tornaremos bons, porque obedecemos ao único bom, o Pai; tendo sempre presente que nossa obediência, o jantar do Filho Unigênito (“Minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e cumprir a sua obra” – São João, cap. 4, vers. 34), não é para a libertinagem, senão para toda obra boa; para se cumprir dentro dos Santos Mandamentos e Estatutos do Senhor.
Segundo este caminho espiritual, se alcança a verdadeira comunhão com Deus, conforme foi confirmado entre vós.
Demos graças a Deus pelo Espírito de Cristo que nos alcançou, de todas as coisas que ele nos deu na Obediência de Seu Filho amado.
Meus caríssimos irmãos:
Todos nós, e principalmente eu, temos um dever a cumprir, e este é divulgar, explanar por toda a Terra a Doutrina Salvadora da Obediência do Cristo, sem a qual não há salvação possível, e contribuir desta forma ao duplo aspecto de nossas vidas, matéria e espírito, para alcançar a salvação das nossas almas e paz entre os homens.
Para o neófito em obras, a fé é o faz tudo… Na sua falta de discernimento ou negligência, não estuda, não analisa, não compara as diferentes fés ou doutrinas para aceitar a que é verdadeira e, portanto, proveitosa, e não a que lhe pareça, enganosamente, mais cômoda.
Nestes tempos de grandes provações para a humanidade, se faz necessária uma revisão das doutrinas religiosas e filosóficas, para descobrir a parte que lhes haja cabido de responsabilidade na formação do espírito guerreiro que caracteriza com singular aspecto o século XX, tendo por resultado o drama fratricida de nossos dias; ou, pelo menos, para convencer-nos – através desse estudo – da completa ineficácia dessas doutrinas religiosas e filosóficas para contrarrestar a índole turbulenta e a onda sanguinária que, como monstro gigantesco, está aniquilando o mundo.
O quadro aterrador da Europa, com seus 40.000.000 de crianças órfãs, desnutridas e sem abrigo, mais as que acrescentar-se-ão, dia a dia, dá margem demais para que os espíritos mais sensíveis à dor alheia investiguem a causa de tamanho mal e não fiquem confundidos, e julguem, simplesmente, pelas aparências.
Se realizarmos um estudo sereno, desapaixonado, deste transcendental problema, chegaremos à conclusão de que a Verdade jamais pode estar em desarmonia com a Inteligência e, em consequência lógica, se as doutrinas filosóficas e religiosas existentes carecem de comprovação científica e a sua estrutura está baseada na areia movediça da fé cega ou aceitada cegamente pela tradição, constitui este erro de critério a causa mórbida, que ameaça aniquilar o mundo inteiro.
Não devem ser aceitas doutrinas de tão instáveis fundamentos. Por outro lado, supor que a existência de tantos credos ou seitas justifica a sua razão de existir também é contrário à lógica mais elementar: seria, irrefletidamente, abandonar o mundo à sua feliz sorte. Se assim procedêssemos no plano científico, seria chegar ao absurdo de não combater as causas das doenças porque a sua existência comprovaria a sua razão de ser: iríamos no rumo do suicídio universal.
Se o direito à liberdade de crença é e será sempre um imperioso atributo do indivíduo nas nações civilizadas, democráticas, esse mesmo direito não impede, ao contrário, justifica, abramos um parêntese nas almas esperançosas de alcançar um nível espiritual e moral que esteja mais em harmonia mesmo com os nossos ideais de progresso.
Se os homens continuassem empregando os mesmos métodos e sistemas até hoje existentes, seria uma imprudência imperdoável. A Experiência, a mãe da Ciência, nos ensina, dolorosa, mas sabiamente qual é o caminho a seguir.
Nada adianta um deslumbrante progresso material, se os homens resultam, espiritualmente, sepulcros caiados!
Sem deter-nos em examinar os problemas da Ásia, contemplemos o quadro aterrador dos povos que mais alarde fizeram de sua cultura: na Europa, vemos com espanto e tristeza que a sangrenta luta se realiza entre milhões de homens que se chamam cristãos! O que vem demonstrar que o verdadeiro Cristianismo havia desaparecido do planeta! Somente podem ser justificados os Estados que, como as nações aliadas, lutam pela sua própria defesa, pela defesa dos princípios democráticos do mundo; pelo instinto natural de conservação!
Em resumo, a Ciência Oficial nada pode evitar. E a Religião, a qual ficou encarregada pelo cultivo da Moral, identicamente fracassou.
É o Novo Mundo, a América, onde se fecundam os mais nobres e altruísticos ideais, o berço do renascimento do Cristianismo Primitivo. É a América nossa, a que ditará a paz mundial e conduzirá os povos por novos rumos espirituais, mais em harmonia com a Justiça Divina, que é o que devem procurar os homens de boa vontade.
Meus caríssimos irmãos:
Pela Vontade de Deus, a Quem obedeço em meu espírito, rogo a Deus nos abençoe, ilumine nossa inteligência e nos dirija com a Sua Sabedoria em todos os nossos atos”.
As Curas Verificadas em João Rodrigues
A curiosidade do repórter diante de uma massa considerável de fiéis, que não oculta o seu entusiasmo e a sua fé na doutrina pregada pelo Professor Ugarte y Ugarte, foi além de uma simples observação dos detalhes comemorativos da data que estava sendo festejada.
É que começaram a aparecer à sua presença homens e mulheres que desejavam dar uma demonstração mais ampla de agradecimento ao Professor Ugarte pelas suas extraordinárias curas psíquicas. E, uma a uma, foram desfilando ante os olhos do repórter as pessoas que confessavam estar libertas dos males que tornavam suas vidas cheias de martírios.
O repórter ouve e anota. Há momentos em que parece tudo impossível. Mas as testemunhas, ou seja, as pessoas curadas é que estavam falando, fazendo questão de dar o nome e citar o mal de quem eram portadoras.
“Com a fé e obediência a Deus, eu fiquei completamente curado”. Era o que ouvíamos a cada instante da boca dos que foram beneficiados pelas milagrosas curas, amparadas na fé e no poder psíquico do Mestre Espiritual da Igreja.
O senhor Ramiro Marques Pinto se “considerava morto”. Seu coração não funcionava bem. Esteve desenganado. E hoje, segundo disse, é um homem que parece nunca ter adoecido em toda a sua vida.
D. Bertolina Dorneles da Silva também estava desenganada. Necessitava de uma operação. Mas com “fé e a vontade de Deus” ficou completamente curada e hoje trabalha na roça, coisa que não podia fazer há anos.
Maria Isabel Alves e Maria José de Oliveira sofriam do coração. Ficaram boas. João Francisco Micheles não podia caminhar. Sofria da espinha. “Hoje, meu amigo, tenho vontade de correr”, diz ele. Juvenal Fagundes afirma que tinha ataque e “ficava como morto”. Entrou para a Doutrina e depois nunca sentiu mais nada.
Paulo da Silva Bastos estava há sete meses de cama, com o sistema nervoso completamente abalado. Também ficou curado.
Nesta altura, o repórter foi quase assaltado por uma multidão de pessoas que desejavam, cada qual, contar o seu caso, a sua doença e a maneira como foi curada. Era impossível ouvir a todos com tamanhas minúcias. Fomos apenas anotando os nomes: Necinda Falero, Vanina Michel, Angelina Fagundes, Constância Pereira de Oliveira, Pedro Coelho da Silva, Amaro Teixeira de Souza, Valdomiro Menezes Ferreira, Maria Elisa Freitas, Zilda Menezes Ferreira, Orfila Teixeira Nunes, Alcina Nunes, menino Larmatine, filho de Aparício Oliveira da Cunha, Egino Teixeira Nunes, Francisco Silveira de Freitas, Onofre José Dorneles, Erotildes Pedreira, Homero de Figueiredo Menezes, Natalina Garcia Nunes, esposa de Florindo Teixeira Nunes, residente em Ramiz Galvão, e Laura de Freitas Nunes, esposa do sr. Estevam Teixeira Nunes. Esta senhora passou muitos anos com o sistema nervoso completamente abalado e hoje acha-se radicalmente curada.
A maioria dos casos acima, que representam uma parte dos que passaram pelas mãos do Professor Ugarte, são de moléstias, em geral, do sistema nervoso, cujo mal desapareceu por meio da força psíquica do Mestre daquela Doutrina.
(*) Publicado no Correio do Povo em 13 de fevereiro de 1944.